quarta-feira, 14 de outubro de 2009

HELLO MY LOVE


Sabes, há muito tempo que me ando a questionar sobre o que pode ser a verdadeira essência do amor. E não falo de pais, filhos, irmãos e amigos, que a esses mal ou bem vamos sabendo dar e receber afectos com mais ou menos traumas e conflitos. Falo da outra especie de amor, daquela que nos pode, ou não, para sempre a uma pessoa, que é ao mesmo tempo outra e nós, sem nunca deixar de ser ambas as coisas.
Às vezes acho que a ficção e a poesia é que deram cabo disto tudo, da verdadeira essência do amor, meteram-nos na cabeça, a nós, pseudo-intelectuais com aspirações a iluminados, que o amor tem que ser feito de sofrimento, ausência, tristeza e abnrgação e que a alma humana só se engrandece com a renuncia da felicidade.
Vivi muitos anos assim, viciada na tristeza e nas ausências, habituada a esperar por nada.
Mas os erros servem para criar hábitos e o vazio também enche a alma, por isso pensei que a minha vida ia ser mesmo: amar, esperar, esquecer e começar tudo de novo outra e outra e outra vez.
Hello my love.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

ENTERRAR O CORAÇÃO


Onde dormem as gaivotas? Onde dormem os cães vadios? Onde dormem os loucos, os sós, os sem abrigo, os que não dormem? Onde dormem os fantasmas, os vampiros, os demónios e as memórias? Onde dormem os sonhos e os pesadelos?
Os dias correm claros e luminosos, mas á noite, quando as crianças têm medo do escuro e os adultos se encolhem no sofá, onde estão as gaivotas, os cães, os loucos?
Eu tenho uma teoria! Acredito que, como nunca somos só e sempre a mesma pessoa, á noite nos transportamos para outros corpos e seres e somos nós os cães, os fantasmas, os poetas, as gaivotas.
Digo isto porque acordo todas as noites alagada em suor, depois de me ter perdido em cidades que nunca vi mas que tenho a certeza que existem.
É nos meus sonhos que percebo que afinal não sou nem quem penso que sou, e muito menos quem gostava de ser. Não passo de uma rapariga escondida numa concha que não sei abrir, e é por isso que sonho que tenho outra vida, que sou um cão ou um passaro, que sou um louco ou um poeta. Ao menos esses correm, voam, sonham, sofrem e desejam. Ao menos esses procuram sempre qualquer coisa, em vez de enterrar o coração e enganar os dias numa existência perfeita e intocável, onde ninguem entra, onde o mundo só serve para contemplar e a agua das fontes é sempre para os outros.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A TUA OUTRA INICIAL


Escrevo-te a ti, que andas por ai á minha procura, numa solidão povoada, vazia e acomodada á espera que a vida te ponha no caminho uma mulher como eu. Não sei como te chamas nem por que inicial o teu nome começa, mas sei que existes, que me esperas e desejas e que um dia farás parte da minha vida.
Vejo-te em sonhos, és alto, timido e discreto, sorriso franco e olhar directo. Mãos pequenas, cabelo forte, cara certa, regular, a boca perfeita e nariz angular... apressado, mas no entanto és calmo e vives com paixão aquilo que fazes.
Não és um estratega nem um jogador, tal como eu és apenas um sonhador e quando a alma sonha projecta e acontece, as coisas saem-nos bem e por isso sabes que um dia, quando te cruzares no meu caminho, vais reconhecer nas minhas mãos frageis e esguias aquelas com que vais adormecer todas as noites até ao fim da tua vida. E quando vires nos meus olhos a cor e a luz que não mais te deixarão, saberas que me encontraste!
Nunca ouvi a tua voz mas sei que reconhecerei a sua doçura no primeiro acorde. Até lá prefiro não te ver, não te ouvir, não te falar e não te encontrar. Depois disso, conta comigo para a vida. Não para hoje, nem para amanha, mas para sempre.
Então a tua inicial será a ultima, a unica e derradeira, aquela que existe para estar ao lado da minha. C!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

A TUA INICIAL


Querida L: a tua inicial podia ser outra e mais outra e outra ainda, tantas quantas as amigas que tenho, mas escolhi-te, para te dizer como, o quanto e porque é que gosto tanto de ti. As pessoas costumam dizer que a verdadeira amizade entre mulheres é impossivel. Nada é mais absurdo. A amizade é talvez a mais bela forma de amor, porque é feita de um amor dócil e dado, feliz e descomplicado, de uma vontade inesgotavel de dar, ouvir, ajudar e apoiar, de estar ali ao lado incondicionalmente para o que der e vier, de comungar coisas impartilhaveis, de guardar segredos sem nunca os reclamar, de saber estar e saber ser um espelho que nao mente e no entanto, suaviza a nossa propria realidade quando esta se torna assustadoramente monstruosa aos nossos olhos.

Olho para ti e vejo um escudo que me proteje do mundo, uma mao pronta a dar, um ombro preparado para receber as minhas lagrimas e tristezas. És um pilar, mesmo quando te sentes fraca e vulneravel. A tua presença faz-me sentir mimada, olho para ti e fico a pensar que sou uma pessoa cheia de sorte por te ter tao proxima.

Querida L, rezo a um Deus qualquer que esteja disponivel, para que a vida te seja doce, grata e generosa, que encontres uma homem a tua altura.

Dás-me paz, companhia, doçura, harmonia, amor, serenidade, confiança. Das-me a mão, o teu coração e a tua cabeça, as tuas memórias e os teus projectos, fazes-me sentir importante quando estou do tamanho de uma ostra e fazes-me rir quando choro e chorar quando rio.

Uma amizade assim não tem fim, mas tem principio e meio, e no meio de tudo isto só te posso dizer, minha querida L que o mundo nao teria a mesma luz se tu nao fizesses parte dele.

domingo, 5 de abril de 2009

Exclusivamente para o meu genero, o FEMININO!


Estou farta! Farta do trabalho que dá ser mulher. Farta de gastar rios de dinheiro em cremes hidratantes, no cabeleireiro e na manicure. Farta de olhar todos os dias ao espelho e descobrir uma mancha aqui, um ponto negro ali, uma mecha de cabelo fora do sitio. Ser mulher dá um trabalhão e eu estou farta.
A culpa é dos meios de comunicação. Das revistas da moda, das mulheres esculturais, plásticas e bombásticas que aparecem nos filmes americanos, das belas actizes francesas e de todas essas pessoas absolutamente lindas e maravilhosas que poluem a nossa pacifica existência com icones inatingiveis e por isso mesmo irresistiveis.
É a cara que não pode ter rugas, o cabelo que deve ser sedoso e impecavelmente cortado, as mãos arranjadas, os pés sem calos, as pernas sem celulite, a cintura sem gordura, o peito com firmeza e sem despeito, os joelhos sem vincos e um nunca acabar de pequenos nadas que transformam a nossa hijiene diária numa longa e árdua peregrinação pelo mundo do imaginário da perfeição que é uma cilada e das grandes.
Estou farta de ser mulher! De usar saltos altos, decotes no inverno que convidam á constipação. Lingerie sexy e incómoda. Rolos no cabelo durante horas para ficar bem penteada. Verniz nas unhas para parecer requintada. Batom e rimmel, base e sombra para parecer animada. Estou farta de ter que estar muito bonita para seduzir, para agradar, para me sentir amada. Quem gostar de mim, que goste da minha cara ensonada de manha, com remelas nos olhos e os cabelos em pé, de pijama e de pantufas, ou então ao fim da tarde, com óculos na ponta do nariz, enrolada numa mantinha a devorar uma caixa de bombons e a ler um bom livro, sem pensar que dois dias depois me vai nascer uma borbulha na testa.

domingo, 1 de março de 2009

BALADA DA SOLIDÃO...


A vida ensinou-me a não olhar para trás. Mas não por medo, ou por vontade, até porque o tempo, que dizem que tudo apaga, só serve para nos roubar as horas e gravar na memória os melhores e os piores momentos. E ficamos presos lá dentro, como peixes num aquário, enquanto a vida corre lá fora, e os outros respiram e se movem em liberdade, sem sequer reparar que estamos ali, fechados em nós mesmos, presos numa bola de vidro transparente que nos mostra o mundo onde não conseguimos viver. E, como o presente não passa de uma prisão dura e pesada, já basta o esforço de a aguentar, por isso olhar para o passado transforma-se num exercicio estéril e inutil que só rouba mais tempo e que não serve para nada.
Quando me vens á memória, lembro-me sempre daquele abraço imenso. Lembro-me que senti medo. Um medo enorme, como se desaparecesse nos teus braços e não voltasse. Mas o teu olhar azul tranquilizou-me, a tua voz era um bálsamo de doçura e magia e as tuas palavras, certas e serenas, faziam-me sentir que tudo estava certo e, por isso, quando passavas muito devagar as tuas mãos pela minha cara e ficavas a nadar nos meus olhos era como se me levasses para um lugar qualquer só nosso, cheio de verde e azul, e secalhar era por isso que te dizia que confiava em ti.
Vivi algum tempo neste estado de plenitude a que uns chamam de delirio absurdo e outros amor total, esperando-te, desejando-te, porque tudo me parecia certo e perfeito. Era certo e perfeito o teu olhar protector, o toque das tuas mãos, o teu peso em cima do meu corpo, a tua respiração regular enquanto dormias, as palavras que me dizias quando falavas do futuro.
Hoje, depois da duvida e da desilusão se terem instalado na minha consciência e me chamarem á razão todos os dias, fecho a porta a esse passado que já me alimentou e tento não pensar nada para não pensar que me enganei, que me enganaste, que te enganaste ou que nos enganámos os dois. A vida ensinou-me a aceitar em vez de querer, a esquecer em vez de julgar, a não guardar rancor e a dobrar a tristeza, sem nunca deixar de amar e proteger aqueles que já fizeram parte dela.
Mas á noite, quando adormeço na cama imensa onde me falta um corpo, uma respiração, é ai que ainda sinto a tua falta, que sinto imensas saudades daquele abraço imenso e das tuas mãos a passar pela minha cara. NUNCA TE ESQUECEREI!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A COR DAS SAUDADES!


De que cor são as saudades? Brancas, mesmo no principio, quando só vemos azul, o azul infinito de todos os começos, ou então daquele amarelo-claro, cor de quarto de menina no principio do século, suaves, diáfamas, quase imperceptiveis. Saudades brancas, as da infância, dos lanches com a avó nas pastelarias da moda, dos Natais em familia, da primeira vez que ficámos de castigo na escola. São saudades doces, pacificadas, confortáveis, familiares, quase sempre permanentes e no entanto guardadas na memória.
Depois, e por grau de importância vêm as saudades de cores berrantes da adolescência, da primeira vez que o coração começou a bater mais forte, da primeira vez que se ousou dar a mão, do primeiro chumbo no liceu, daquele primeiro acto de rebeldia. São as saudades rebeldes, vermelho vivo, azul turquesa, cor de laranja, numa mistura de cores e sabores agri-doce de que é feita toda a idade do armário, quando nos fechamos para o mundo convencidos que o temos na mão.
Depois vêm as saudades do primeiro amor. Do primeiro beijo, das cartas trocadas. Saudades dos beijos dados ás escondidas nas escadarias do liceu ou na paragem do autocarro deserta. Saudades da primeira noite de paixão em que prometemos este e o outro mundo. E depois, saudades da primeira vez que nos rejeitaram, o peito inexperiente a sangrar, as lágrimas descontroladas e a voz a tremer, as noites de insónias...
Gosto de imaginar as saudades ás cores, amarelas, rosa choque, de cores vivas, ás bolinhas ou ás riscas, mas sempre alegres como confetis e serpentinas em festas de crianças.
Ter saudades boas é uma das melhores formas de gostar de alguém. Saudades boas, que sabem bem, cheias de memórias doces e frescas, saudades de tardes passadas a ler, de passeios na praia a conversar, saudades de um futuro próximo, ainda incerto, mas cada vez mais perto...
São essas as saudades boas, as saudades certas, que não doem, não cansam, não cobram e não pesam, que só conhecem o verbo dar que fazem com que aqueles de quem mais saudades temos, que nem semprenvemos quando queremos, mas que sabem estar sempre próximos e atentos, tenham sempre saudades de nós.