terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O TEMPO QUE FOR PRECISO ( PARTE II )

O amor abre o coração, desprotege o espirtito, acorda o corpo e aquece a alma. Pode nascer de um olhar mais longo, de uma conversa à mesa, de um passeio á beira-mar, da simples passagem da palma de uma mão por uma cintura desprevenida. Não tem regras, nem tempo, nem cores, porque não tem limites, nem compassos nem contornos. Por isso é que quando nos apaixonamos enchemos páginas inúteis com os defeitos e qualidades do nosso amado sem chegarmos a nenhuma conclusão. E ao vermos nele alguns defeitos que tanto abominamos, condescendemos, abreviamos, comtemporizamos e deixamos passar. Porque o verdadeiro amor é aquele que resiste ao tempo, sobrevive às dúvidas, emerge do medo e aprende a dominá-lo.
Amar é outra coisa. É dar sem pensar, é sonhar o dia todo acordado e dormir sem nunca adormecer, é galgar distâncias com agilidade e destreza, é viajar sem sair de casa, escolher livros e programas surpresas, namorar o telefone à espera que ele toque, acordar depois de duas horas de sono com cara de bebé, sentir que somos invenciveis e que a perfeição está tão perto e é tão fácil, que a morte já podia chegar, sem termos medo de perder a vida.
O verdaeiro amor é absoluto, indestrutível, estóico, inflexivel na sua êssencia e tolerante na sua vivência, discreto, sóbrio, contido, reservado, escondido, recatado, amadurecido, desejado, incondicional, amargurado, sagrado, sobressaltado. O verdadeiro amor é delicado, bom ouvinte, cúmplice, fiel sem ser servil, atento sem se impor, carinhoso sem cobrar, atencioso sem sufocar e muito, muito cuidadoso para nunca se perder, se estragar, se esquecer ou desvirtuar. O segredo está no tempero, na moderação, nas palavras que nunca se chegam a dizer, nas conversas perdidas à beira do rio, no olhar que fica no ar, no tempo que é preciso dar para que cresça, amadureça e deixe de meter medo. È preciso dar tempo ao amor, um tempo sem tempo, sem datas nem prazos, sem exigências nem queixas, PORQUE O AMOR LEVA O TEMPO QUE FOR PRECISO!

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

ESPERA....



Não, não partas já. Espera mais um pouco ainda, espera que o tempo passe e te apazigue a alma, te arrefeça os ímpetos e te faça voltar á terra, a essa estúpida e reguladora rotina que te rege os dias e as noites e te faz sentir que afinal és uma pessoa normal, dono da tua vida e do teu coração. Espera só mais um momento, deixa que o silêncio perpetue os nossos momentos de perfeição, a comunhão das nossas almas num desjo duradouro e certo que o tempo não mata, só ajuda a cimentar, que a distância não destrói, só ajuda a alimentar.

Espera só mais um instante, até que a tua memória quente cristalize os nossos momentos e os preserve como um tesouro secreto por mais ninguém descoberto e cobiçado. Guarda bem esses instantes, num lugar qualquer entre a tua cabeça e o teu coração, que deve ser mais ou menos onde se situa a alma e espera que o tempo te diga se o que sentes vai crescer e dar sentido à nossa vida.

Espera só mais um ou dois minutos, eterniza este abraço, grava-o na tua memória para que amanhã e depois, e depois ainda, o possas sentir outra vez, que ele te acompanhe e te ajude, te dê apoio e protecção, te faça sentir amado e desejado.

Mas espera, espera um pouco ainda, espera, porque a espera é o tempo de deixar crescer aquilo que há-de ser. É sempre pouco, quando se tem tanto para dar. E receber.


quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O TEMPO QUE FOR PRECISO (PARTE I)


O TEMPO está para o AMOR como o vento está para os incêndios; apaga os FRACOS e ateia os mais FORTES. É uma espécie de teste, uma prova cega, uma forma inequivoca de clarificar a essência daquilo a que tantas vezes queremos chamar AMOR e que ainda não é mais do que o minusculo embrião de futuro INCERTO e tantas vezes IMPROVÁVEL.
O TEMPO está para o AMOR como o vento está para os incêndios. Alastra repentinamente, TRAIÇOEIRO e sem aviso, vai para lugares onde nunca pensamos que pudesse sequer chegar, faz-nos TEMER, SOFRER, REZAR dá-nos vontade de LUTAR para o COMBATER, porque não sabemos para onde vamos, o que queremos nem se seremos os mesmos depois do fim... e por isso receamos ofim antes mesmo do principio, imaginamos cenários apocalipticos para PROTEGER o coração cansado e errante que não quer ainda, apesar de tudo, parar para pensar ou escolher um lugar.
O TEMPO está para o AMOR como está para tudo o resto na vida. É o que nos dá MATURIDADE, que nos ensina a distinguir o que é urgente daquilo que é mesmo importante, que nos mostra onde estão os verdadeiros amigos, que nos dita quais os PRINCIPIOS pelos quais nos regemos e como devemos lidar com as nossas FRAQUEZAS. O TEMPO ensina-nos a viver com os DEFEITOS e a respeitar as DIFERENÇAS dos outros. Dá-nos SABEDORIA, TOLERÂNCIA, OBJECTIVIDADE e CLAREZA MENTAL. Afasta as DUVIDAS e as HESITAÇÕES. Poupa-nos de DECEPÇÕES e ENGANOS. Abre-nos os olhos quando somos os unicos a não ver. E dá-nos força para continuar, mesmo que o AMOR seja uma AUSENCIA, uma PERDA, uma FALTA, uma DESILUSÃO.
Tantas vezes se consome a si próprio, tantas vezes é tão fácil de apagar, para depois se reacender, volta a vacilar, incerto e inseguro, quente mas efémero, forte mas fálivel, romântico mas tantas vezes superficial...

terça-feira, 7 de outubro de 2008

KENS E BARBIES!!


O Ken está para a Barbie como o pão está para a manteiga: foram feitos um para o outro. A Barbie é fútil, vazia, irritante, pirosa, peneirenta. O Ken é paspalhão, cabotino, caramelo, convencido, embora não convença ninguém, sempre vai dando a volta á Barbie.
O país por excelência dos Kens e das Barbies é a América. Não há série televisiva, por mais ranhosa que seja, que não tenha uma loira patriótica e bem nutrida, de lábios generosos e decotes filantrópicos, a qual é irremediavelmente salva por um jovem garboso e bem parecido, de cabelos ondulados e olhos claros, caparro de Mohamed Aali e inteligência de cão de circo. E o nosso Portugalinho, pródigo em tudo imitar, também tem o seu pequeno mundo de Kens e Barbies. Elas muito louras e esticadas, com saias de mão-travessa e eles de blazers de botões dourados, lenços de lapela, sapatos de berloques e charutos em dias de festa.
Os Kens nacionais são aqueles que vão á Kapital, passam horas a penteaar-se nas casas de banho, que não se importam de passar fome para ter o ultimo modelo do BMW com o mais pequenos e portátil dos portáteis. Estes pequenos homens descobriram que, sendo Kens, o mundo cairia com mais facilidade aos seus pés, mas o mundo deles reduz-se ao universo das Barbies.
Os nossos Kens até podem ter charme, mas é o charme ribatejano que se civilizou há uma ou duas gerações. A educação até pode ser esmerada, mas os palavrões estão lá, para o que der e vier. E até podem ser bem parecidos e ter boa figura, mas engordam e embarrigam com excessiva facilidade.
O grande problema é que Portugal está cada vez mais cheio de Kens, enquanto as Barbies vão desaparecendo aos poucos. As mulheres já perceberam que não vale a pena serem bonecas e empastarem a cara de cremes, que mais vale dormir muito e fazer ginástica. Mas é exactamente quando as portuguesas estão a descontrair-se que os portugas se estão a apirosar, ou pior ainda a amaricar, com cremes exfoliantes, pijamas de seda, perfumes fortes e gravatas floridas.
Os Kens de Portugal estão a desvirtuar o português de gema, que fazia a barba sem espuma e se lavava com sabão azul, andava a cavalo o dia todo e só tirava as botas para dormir. Ainda bem que a civilização chegou aos homens, mas não convém abusar. Até porque as Barbies, que passam metade do dia a arranjarem-se para estarem impecáveis a outra metade, não aguentam durante muito tempo ao seu lado uma criatura tão enfadonha e desinteressante como elas.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O ADMIRÁVEL MUNDO DA MODA...


Depois de uma frustrada volta pelos centros comerciais e lojas de marca, cheguei à triste conclusão que estou fora de moda. Ou então é a moda que está fora das lojas. Ou talvez se tenha dado o caso da moda estar fora de si, o que de qualquer modo me põe fora de mim.
A moda é um fenómeno estranho, irritante e absurdo. Meia dúzia de figuras com as pecto bastante critico - vide Jean Paul Gaultier - são os iluminados que ditam a moda com quem dita cartas à secretária: "Ex.mos Senhores, este ano a moda vai ser...". E despejam tudo o que lhes passa pela cabeça sem o menor respeito pelas compras que fizemos o ano anterior, elaborando um chorrilho de conceitos vazios sobre tecidos, cortes, linhas, texturas, tendências e oiyros aspectos do assunto. E nós mulheres, absorvemos as informações como um rebanho com mixomatose e perdemos o gosto. Dou por mim a namorar sapatos que há um ano achava absurdos e a usar risca ao meio que duarante décadas achei piroso. Sinto-me um ser letal e impotente perante a moda. È como se tivesse perdido o poder de análise, a capacidade de escolher, o gosto de observar, o jeito para me arranjar. A moda acefalizou-me.
O que mais me fascina na moda é a sua linguagem própria e inimitável!
O que é um facto é que não me sinto na moda e isso irrita-me. O que eu sempre temi está a acontecer. Estou a ficar clássica, demodée!
Lanço um apelo a qualquer alma caridosa que me queira ajudar. Será que ninguém da moda me quererá por na moda? As minhas preferências vão para o Giorgio Armani e José António Tenente, mas não sou esquisita!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

OS HOMENS DEVIAM VIR COM LIVRO DE INSTRUÇÕES!


Nunca fui boa com máquinas!

Não consigo perceber os homens. Primeiro, porque não vêem com livro de instruções. Segundo, porque mesmo que viessem, os principios que se aplicam a uns não são necessariamente os mesmos que se aplicam a outros. Às vezes um manual de instruões dava jeito. Não para livro de cabeceira, mas do género dicionário, para consultar de vez em quando, sempre que uma dúvida nos assalta e não queremos meter a pata na poça.

Continuo na minha: os homens deviam vir com manual de instruções. Uma edição barata, tipo livro de bolso, mais ou menos do tamanho da bolsinha das pinturas. Dava mesmo jeito. Porque uma pessoa não consegue perceber e adivinhar tudo. Por exemplo, o que quer dizer: és muito gira, depois telefono-te! É amanha ou no próximo milénio? Também não percebo quando dizem que têm saudades, mas depois empanturram a semana com reuniões e jantares de trabalho. Ou quando passam horas a fio ao telefone às segundas e sextas a dizerem-nos porque é que somos fantásticas, mas não ligam terça, quarta, nem quinta. Se um dia começar a perceber alguma coisa, talvez me aventure a escever um manual. Mesmo que já seja demasiado tarde para aplicar alguma coisa que entretanto aprendi, sempre fica para a próxima geração.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

OS GLORIOSOS MALUCOS DAS MÁQUINAS MOTORAS!


O melhor exemplo que o trânsito transtorna irremediavelmente a saúde mental dos portugueses é essa famigerada raça que amaldiçoamos o ano inteiro, excepto nos dias em que o carro foi parar à revisão, ou um pneu se furou estupidamente numa tampa da EPAL, mal assente. Nesse raros dias, os toleramos porque precisamos deles.
O taxista é por definição um animal urbano enraivecido pelos peões indisciplinados, pelos sinais sempre fechados, pelos sentidos proibidos que passam a vida a ser mudados, pelos clientes que nunca têm trocados, mas sobretudo pelos outros automobilistas que eles consideram uns asnos acabados. E como todos os ódios cultivados, este também não deixa de ser reciproco.
Mas a principal razão que nos faz odiar estes homens, além do seu aspecto pouco lavado e digno: unha do dedo mindinho comprida, cabelo oleoso, barriga proeminente e umbigo atrevido e peludo, cotovelo de fora e bronzeado à bimbo, é, em primeiro lugar o facto de eles serem muitos. Não é só a sua maneira arrogante de conduzir, atravessando-se nas nossas barbas como se a direita estivesse sempre do lado deles, ocupando duas faixas ou parando ostentivamente no eixo da via (como dizem os instrutores), quando dois metros à frente há uma paragem de autocarro onde podiam ter encostado para nos deixarem passar, etc, etc, etc...
Tudo isso é mau, mas não é o pior. O pior é que eles são muitos e estão em toda a parte. Porque além de serem aos milhares, estão bem organizados e têm noção de classe. Não são um sindicato, são uma máfia.
Os taxistas, no fundo, são como as abelhas, com todos os defeitos destes voadores e sem nenhuma das suas qualidades: chateiam em separado, mas em conjunto podem matar.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

VIDA DE CÃO...


Tenho um cão!

Uma criatura com 50 cm de comprimento,palmo e meio de altura e uns olhos esbugalhados enfeitados por um par de orelhas espetadas, tudo isto plantado num rolo de carne feito de boa comida. Chama-se Faruk. O Faruk é um produto acabado da sociedade de consumo e, devia ser copiado pelos japoneses para suceder ao Tamagoshi. Gosto do Faruk porque ele é, afinal um ser perfeito, dentro da sua insignificância, coerente consigo mesmo e com o mundo que o criou. O Faruk é espalhafatoso e tem pujança, ladra com persistência e convicção, duas oitavas acima do que seria admissivel para uma macho e, passa o dia á janela a bisbilhotar a vida alheia. Os olhos que parecem duas bolas de ping-pong tingidas observam atentamente cada movimento de pessoas, carros e outros animais.

Mas o que se passará na cabeça do Faruk? O que pensará este ser sobre a onde de criminalidade que há no nosso país? Que opinião terá este ser quase humano sobre a clonagem, o buraco de azono, as férias no Algarve?

Quando olho para o Faruk não vejo um cão, vejo uma porteira velha e ociosa que gosta de bisbilhotar a vida alheia, fala pelos cotovelos com as vizinhas com quem ainda não se zangou e derrama lágrimas de crocodilo no enterro do marido que envenenou. Quando olho para o Faruk vejo os milhares de portugueses que vivem sem trabalhar, peritos em meter baixas e em outras artimanhas de exploração alheia, habituados a não trabalhar para sobreviver, encostados a uma amante rica ou um senhor de posses que não se importa de pagar as contas em troca de carne quente uma ou duas vezes por semana. O Faruk, que dormita durante o dia é a dona de casa inútil que não sabe como ocupar os dias desde que o marido, promovido de pedreiro a empreiteiro quis fazer dela uma senhora e contratou uma criada interna. E quando ladra e desperta em mim os instintos mais violentos e assasinos, oiço as vozes dos estudantes nos cafés a tagarelarem, criticando os professorese a sociedade, convencidos que um dia vão ter o mundo na mão só porque vão andar de canudo debaixo do braço, licenciados, na feliz ignorância das leis do mercado de trabalho. O Faruk é quase uma pessoa, nos seus tiques de filho adoptivo, nos seus ataques de sensibilidade.

No fundo eu invejo o Faruk. O faruk nunca tem pressa, nem contas para pagar, não precisa de ir ao supermercado nem de despejar o lixo, não cozinha nem paga impostos e não atura ninguem. O mundo é que o atura a ele.

Se isto é que é vida de cão vou ali e já venho!

quarta-feira, 25 de junho de 2008

CORAÇÕES AO ALTO!

Há muitos tipos de corações. Há corações pequenos e timidos, há corações grandes e abertos, há corações onde é preciso meter requerimentos de papel azul e selo de garantia para abrirem as portas, e outros, cheios de janelas, frescos e arejados. Há corações com trancas, segredos e sistema de alarme que são como cofres de bancos. Corações sombrios e desconfiados, com fechaduras secretas e portas falsas. Corações que parecem simples, mas quando se entra lá dentro, espera-nos o mais perverso dos labirintos. E há corações que são como jardins publicos, onde pessoas de todas as idades podem entar e descansar. Há corações que são como casas antigas, cheios de mistérios e fantasmas, com jardins secretos e sotãos poeirentos, carregados de memórias e recordações e há corações simples e fáceis de conhecer, descontraidos e leves, sempre em férias como tendas de campismo. Há corações viajantes, temerários e corajosos, como barcos á vela que nos parecem bonitos ao longe, mas que nos deixam sempre na boca o sabor amargo de nunca os conseguirmos abarcar...
Há corações rebeldes e selvagens que não suportam laços nem correntes, corações predadores que só sobrevivem se caçarem outos corações, que correm tão depressa como chitas e matam como leoas e, depois há os corações gnus, que sabem que vão ser caçados mas não fogem ao seu destino...
Há corações que são como rosas, caprichosos e cheios de espinhos e outros que são campainhas, simplórios e carentes sempre a chamar por afecto. Há corações que são como girassóis, rodando as suas paixões ao sabor do brilho e da glória e corações como batata-doce, que só crescem e se alimentam se estiverem bem guardados e escondidos debaixo da terra.
Há corações a motor, que vivem só para o trabalho e corações poetas que só se alimentam de sonhos e ilusões. Há corações teatrais, para quem a vida é uma comédia ou uma tragédia e corações cinéfilos, que registam a beleza de cada momento em frames de paixão...
Mas há ainda uma outra espécie de corações, os corações hospedeiros, que sabem receber e fazer sentir os outros corações como se estivessem em casa, que dão e aceitam amor sem se fixarem, que tratam cada passageiro como se fosse o ultimo, enquanto procuram o seu coração gémeo, sempre na esperança secreta e nunca perdida de um dia deixarem de viajar e sossegarem para a vida.

domingo, 15 de junho de 2008

FINAIS MAIS OU MENOS FELIZES


Detesto finais. Quando acaba um filme, não me apetece sair da sala de cinema. Fico ali sentada, no escuro-claro do genérico final, alheia ao frenesim das pessoas que fazem autênticas gincanas para ver quem é que sai da sala mais depressa. Eu, pelo contrario, queria ficar colada a cadeira. Não me apetece enfrentar a bicha do parque e procurar noedas no fundo da carteira. Só saio quando as cortinas se fecham. Afeicoo-me às personagens e ponho-me a imaginar como é que continua a vida delas depois de saírem da tela.
Com os livros ainda é pior. Demoro sempre mais tempo a ler as últimas páginas, só para não chegar ao fim. Às vezes interrompo a leitura e volto a guardá-los na estante, só para não lhes desvendar o ultimo parágrafo. Outras vezes abro uma página ao calhas e começo a ler outra vez dali para fazer render o peixe. E quando chego ao fim, só estou contente se tenho ao lado uma pilha de livros ainda por ler. Fiquei traumatizada com os finais felizes dos contos de fadas: "E depois casaram, tiveram muitos filhos e foram felizes para sempre". Imagino logo a Bela Adormecida já entradota, a fazer casaquinhos de tricot, a mandar calar a filharada enquanto espera o regresso do principe, já miope e um pouco curvado, que foi trocar de cavalo ou comprar póneis para os descendentes.
O melhor das coisas é não lhes conhecer o fim. Acordar e não saber como vai ser o dia, adormecer e nem sonhar com quem se vai sonhar. Partir sozinha num fim de semana e encontrar companhia. Ficar em casa à noite e ouvir a campainha tocar. Deixar-me ir na vida, viver e deixar viver sem as grandes opções do plano. Não é tão fácil como entregar a existência a um esquema de vida cheio de programas e obrigações, mas é muito mais agradável, porque a vida está sempre á espreita, é só dar-lhe tempo e espaço.
Por isso é que os finais são horriveis. Fica o ar vazio, deixamos de ver ao longe, de repente apagam-se as luzes e a vida fecha-se aos nossos olhos. Depois do fim, vem a pergunta fatal E Agora? Mas o pior são as despedidas. É sempre horrivel dizer adeus, mesmo que seja só até logo à noite.
Não, não gosto de dizer adeus nem de ver o fim a nada, sobretudo se não lhe vi o principio. Prefiro dizer até um dia destes, mesmo que esse dia demore anos. Ou então, afastar-me sem uma palavra, e deixar no ar o mistério d não saber quando, como e porque é que nos voltamos a encontrar. Assim não sou eu que ponho fim ás coisas, mas as coisas que um dia acabarão, ou não, por si.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

O GRANDE EQUIVOCO!

Estou de luto. A razão é simples. Festeja-se o vestusto 1º de Maio, o Dia do Trabalhador que inexplicavelmente ainda não foi objecto de reclamação por parte das senhoras do Movimento da Condição Feminina para passar a Dia do Trabalhador/Trabalhadora. Deve ser porque as mulheres after all these years afinal devem ter chegado á conclusão que a ocasião não é afinal lá muito festiva. Está certo, ganhámos imenso desde o tempo de Salazar. Ganhámos estatuto, direitos, respeito, independência, voz e corpo. Mas perdemos imensas coisas, entre elas tempo para nós próprias. O tempo tornou-se o bem mais escasso para as mulheres. Antigamente bordava-se, lia-se, aprendia-se a ser boa dona de casa, estudava-se piano e restauro e tinha-se tempo para arranjar o cabelo, fazer limpezas de pele, limar as unhas, experimentar roupa e sonhar. Agora, é uma lufa-lufa pegada. Cada dia anuncia-se violenta e implacavelmente com o intruso e inoportuno trrriiim do despertador que nos arranca dos braços do Morfeu sem dó nem piedade e nos obriga a um dia em cheio. Cheio de trabalho e mais trabalho e ainda faltam as tarefas domésticas....
Uf, que grande estafa e, ainda são só dez da noite!
Não há dinheiro nem sucesso que pague esta triste vida, pela simples razão que não sobra tempo para a gozar.
Mas isto ainda não é o pior! Eles esperam que nós sejamos perfeitas e não se contentam com menos. E como o trabalho de casa que t~em diariamente resume-se a acertar com o nó da gravata e o cinto com os sapatos, não fazem a menor ideia do trabalho que dá ser mulher. Já não se pode estar de rolos na cabeça nem com máscara de pepino na cara. Nestas coisas os homens não são nada compreensivos. Não aceitam os nossos estados transitórios de larva, só querem ver a borboleta.
Não me venham dizer que as mulheres que trabalham menos são menos felizes. Eu vejo-as sempre estupendas. Claro que não se deve viver no outro extremo, o de não fazer nada de nada. Eça de Queiróz sabia o que dizia quando afirmou que o ócio é a mais absorvente das tarefas e só Deus sabe a qauntidade de coisas que uma mulher desocupada é capaz de fazer. Mas também trabalhar tanto dentro e fora de casa, também é demais.
Este é o Grande equivoco do nosso século. Meteram-nos na cabeça que devemos ser independentes, ter muito sucesso e ganhar muito dinheiro, mas esqueceram-se que antes de tudo temos de ter tempo para ser mulheres e adoramos sê-lo.
Ser mulher dá mesmo um trabalhão. A sério. E se acha um exagero, experimente perguntar á sua. Mas não enquanto ela estiver a pôr os pratos na máquina, pode provocar algumas baixas no serviço Vista Alegre.

terça-feira, 29 de abril de 2008

A CURVA DO RIO


Há muito tempo que desejo escrever-te esta carta, como se uma força oculta fosse falando cada vez mais alto dentro do meu peito, uma voz muda que vai ganhando força e subindo até á garganta, tudo arranhando pelo caminho, inevitável e consistente, como o curso de um rio.
Quando o nosso amor nasceu, vi-o correr muito depressa debaixo dos meus olhos e quis ir atrás dele. Perdi o meu tempo porque não percebi que era a unica que o seguia. Não te vi parado, do outro lado da margem, que se ia cavando cada vez mais larga e funda, impotente ao caudal, assustado com a minha determinação, tu que só somas certezas depois de se disssiparem todas as duvidas e que preferes sempre nao acreditar em ti e nos outros, ate que o tempo e a sorte te vençam.
Somos o avesso um do outro. Quando duvidas, páras, e eu sigo em frente. Quando tens medo, eu tenho vontade, quando sonhas, eu pego nos teus sonhos e torno-os realidade, quando te entristeces, fechas-te numa concha e eu choro para o mundo, quando não sabes o que queres, esperas e u escilho, quando alguem te empurra, tu foges e eu deixo-me ir.
Somos o avesso um do outro, iguais por fora, o contrario por dentro. Tu proteges-me, acalmas-me, ouves-me e ajudas-me a parar. Eu puxo por ti, sacudo-te e ajudo-te a avançar. Como duas metades teimosas, vivemos de costas voltadas um para o outro, eu sempre á espera que te vires e me abraces, e tu sempre á espera que a vida te traga um sinal, te aponte um caminho e escolha por ti o que não és capaz.
Sobram-me as palavras, ainda e sempre as palavras que correm pelo rio. Histórias, mensagens, crónicas, um livro, conversas, e mais histórias, porque as palavras são as unicas que nunca falham, que me alimentam os soinhos e sustentam os dias quando mais nada me rodeia para além do silencio e uma vaga ideia de espera, desbotada pelo cansaço e pelo tempo.
Nenhum rio corre duas vezes e o amor é um mistério em estado liquido que se pode solidificar numa relação quse perfeita ou evaporar-se com o tempo e a distância, chamando a ausência para o lugar do futuro. E quando o futuro é um lugar deivxado vazio, nada mais há a fazer senão voltar para trás e procurar, sem procurar, uma nova nascente.


quinta-feira, 17 de abril de 2008

MANIFESTO ANTI-BIGODE!

Que me perdoem muitos portugueses e alemães, mexicanos e eslavos, taxistas, empregados bancários e motoristas da Carris, futebolistas, vendedores, pequenos empresários, desconhecidos, conhecidos a até alguns amigos, mas sou completamente alérgica a bigodes. Acho um bigode uma coisa absolutamente sinistra. Um tufo de pêlos inútil e inestético. Uma protuberância capilar foleira e despropositada. Um adorno pouco higiénico e muito duvidoso. Um adereço patusco que desfeia a boca e desenfeita o nariz. Em suma, uma ideia infeliz.
O bigode consegue ser uma moda que está sempre fora de moda. É uma mania sem gosto, uma inutilidade sem sentido, um toque de diferença que pode tornar um homem (ou mulher) com cara de parvo num animal bigolhudo e um com cara de esperto numa cara de parvo. O bigode é feio, e mesmo muito bem cofiado e penteado dá um ar desalinhado.
Claro que há bigodes imponentes e até carismáticos, mas esses são excepção. Como o bigode é um apêndice absurdo, nunca deve andar sozinho. Ganhará seguramente alguma dignidade se for devidamente enquadrado numa barba, um bigode entregue a si mesmo pode fazer muitas asneiras, sem a presença imponente e dignificante de uma barba madura e ajuizada, bem semeada e bem cortada. Um bigode sem barba é como um casaco sem calças, umas botas sem meias ou um cabide sem cruzeta. Não serve para nada, não é bonito e não resulta.
Ao analisar a história identifiquei algumas figurinhas para verificar que o bigode anda mais na boca de pessoas pouco recomendáveis do que a digna barba, vejamos:
Hitler tinha bigode, Xanana Gusmão, barba. Estaline, bigode. Indiana Jones, barba. Estão a perceber onde é que eu quero chegar? Até Jesus na Terra usou barba e se algum apóstolo usou bigode foi de certeza o Judas. Salvador Dali, Cantinflas, Charlot são três bigodes de excepção. O primeiro porque era genial, o segundo porque era cómico e o terceiro porque era falso. Porém, o bigode é mesmo uma coisa pouco recomendável e não só fica mal aos homens como as mulheres, mesmo que se resuma a cinco pelitos louros imediatamente acima dos cantos da boca.
Abaixo o bigode, viva a cara lavada. Quanto a barbas, prefiro a do Pai Natal. E tu?

terça-feira, 15 de abril de 2008

FORMAS DE EXPRESSÃO!

A nossa língua é, por assim dizer, um bico-de-obra. De facto, nenhum país em que existem nomes de terras como Picheleiro, Casal Mil Homens, Venda das Raparigas, Vila Nova do Coito e muitas mais, tudo é de esperar…
Mas há pior. Como as expressões corriqueiras que, tal como pasta dentífrica, andam na boca de toda a gente. Como “dar uma volta ao bilhar grande” que pode querer dizer varias coisas, mas nenhuma correspondera com certeza a uma volta ao dito bilhar, seja ele grande ou pequeno.
Dar de frosques” ou, pior ainda, “pôr-se na alheta” também fazem parte da infindável lista de expressões vazias, parvas e absurdas que não querem dizer nada. Assim como “pôr-se nas horas” que quer dizer chegar muito depressa a um lugar. Nesse caso, porque é que não se diz “pôr-se nos minutos”? Faz pensar na clássica “caíram nos braços um do outro” onde braços, na maior parte deviam ser substituídos por pernas.
E depois, todas as expressões com o verbo PÔR conjugado quase sempre de forma reflexa dão que pensar. Trazem água no bico. E cá está outro! Bico! Porquê no bico? Seremos todos aves raras? Já “água na boca” tem a sua razão. Mas ter “a cabeça em água” é outro absurdo, porque significa um estado mental deplorável relacionado com cansaço e torpor, quando deveria querer dizer algo relacionado com mergulhar ou ir ao cabeleireiro. E quanto aos “burros na água”, parece-me que burros somos nós em não perceber que andar com os animais na água é uma coisa má, pois são imã espécie que até aprecia uma banhoca no charco.
Quanto aos “nervos em franja”, pergunto-me se o nosso sistema nervoso é passível de um corte de cabelo. E para os “cabelos em pé”, relembro a época Punk e os B 52’s, ou Maria Antonieta. Nada mais me ocorre, porque já vi muita gente apanhar muitos sustos, mas nunca verifiquei que isso lhes levantasse as raízes capilares.
Outra expressão que muito me enerva é o “vou andando”. Está bem, vai-se andando, mas para onde, como e porquê? Será a pé, de autocarro, de metro, de comboio, de trotineta, de avioneta ou de patins? “Vou andando” lembra a canção do Capuchinho Vermelho: “ pela estrada fora – eu vou bem sozinha – levar a merenda á minha avozinha etc., etc.… “ Se calhar somos todos Capuchinhos (embora a maioria vigente esteja já um bocado desbotada). Ir andando é uma tristeza. Não se vive triste nem contente. A vida é uma seca rotineira que vai andando, sem chegar a lado nenhum.

E por falar em andar, que é que foi o engraçadinho que inventou a expressão “dar corda aos sapatinhos” para dizer que se vai embora? Será que porque nos anos 80 floresceu a moda dos sapatos modelo carrinhos de choque?
Mas há outros equívocos como “levantar-se com o pé esquerdo”, o que para um canhoto é natural e até está certo. Tipo, Nuno Almeida, vá! O mesmo se dá com “acordar com os pés de fora”, que no verão é bastante agradável e não deixa ninguém mal disposto.
E também há o “estar a dar”. A dar o quê? Bofetadas? Brindes? Chocolates? Viagens ao México? Seats Ibizas? Num mundo em que ninguém dá nada a ninguém a não ser chatices e desgostos, o “estar a dar” é no mínimo absurdo. Assim como a variante negativista do “isto não está nada a dar”, que só é legítima para árvores de fruto e hortas.
Assim como quando se fala de uma relação que está “ a dar os seus frutos”. Quererá dizer que os descendentes terão cara de nabos, rabanetes ou melões?
E a propósito de fruta, não lhes digo a quem é que chamava um figo!

sábado, 12 de abril de 2008

NÃO GOSTO!

Não gosto! Não gosto de portagens, não gosto de impostos, não gosto nem do IVA, nem do IRS, não gosto de pagar o que não devo, de ouvir o que não tenho de ouvir, de falar com quem não gosto, de engolir o que não mereço.
Não gosto de meninos pequeninos que se fazem homens, nem de homens que se comportam como meninos pequenos. Não gosto de pessoas que só querem o que não têm e quando têm o que querem, não sabem do que é que gostam.
Não gosto de duvidas nem de confusões, de meias palavras e indefinições. Não gosto de ouvir não sei, talvez, logo se vê, tem paciência e não gosto que me peçam desculpa.
Não gosto de atrasos, de promessas falhadas, de encontros desmarcados, de palavras vãs, de planos que não se põe em prática.
Não gosto de mulheres que não sabem gostar das outras mulheres, nem de mulheres que só gostam de mulheres, não gosto de homens que só gostam de homens, nem de misóginos que não sabem do que é que gostam.
Não gosto de gritos, nem de cenas, de gestos teatrais e frases dramáticas. Não gosto de ficar calada quando tenho coisas para dizer nem ter de adivinhar o que os outros não conseguem explicar.
Não gosto nem de praias sujas e águas turvas, de bairros da lata nem de condomínios de luxo. Não gosto de entradas em mármore e móveis lacados, de talheres mal lavados e de unhas encardidas. Não gosto de motas sem escape e motards sem nível, não gosto de descapotáveis encarnados nem de lenços farfalhudos a saltarem da lapela. Não gosto de blazers azuis-escuros e camisas as riscas, de nós de gravata desapertados, do dito pelo não dito e de tudo o que é mal feito.
Não gosto que passem á minha frente nas portas em nome da igualdade entre o homem e a mulher, que me tratem por tu sem me conhecerem e me peçam dinheiro só porque fingem ajudar-me a arrumar o carro.
Não gosto de concursos nem de Seats Ibizas que os concursos dão, não gosto do cabelo empastado do José Rodrigues dos Santos no Telejornal (embora goste dele), não gosto da TV Shop, das telenovelas mexicanas e de series dobradas, não gosto dos filmes do Silvester Stallone, não gosto de salas de teatro vazias, não gosto de música metal, e sobretudo, não gosto que me dêem música.
Não gosto de intrigas nem de histórias mal contadas, não gosto de cartas que se perdem antes de chegar ao destino, de livros que não chegam ao fim, de viagens que não se fazem. Não gosto de não poder acreditar nas outras pessoas, não gosto de voltar atrás, e ainda menos que voltem atrás comigo.
Não gosto de pessoas que pensam que sabem tudo e que falam com arrogância, não gosto de intelectuais que ganham a vida a escarnecer as pessoas e só perdoam os que idolatram. Não gosto de pessoas que fazem voz aflautada ao chefe e grossa á mulher-a-dias, que deixam roupa desarrumada e louça suja, que falam da sua vida privada ao primeiro desconhecido que encontram e que se escondem atrás de ideias feitas para julgar o que está bem e o que está mal.
Não gosto de pessoas calculistas e maquiavélicas, ambiciosas e individualistas que não sabem ver mais longe do que os seus interesses e o seu bem-estar.
Não gosto que me cortem a onda e me afastem de quem gosto, não gosto de perder tempo nem oportunidades.
Mas acima de tudo, não gosto de perder a alegria e a vontade de continuar a viver, a rir, a brincar, a dormir, a partilhar e a gostar do mundo e das pessoas.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

PENSAMENTO... (revoltado)

Acordo todas as manhãs com este zumbido e a certeza que não vais voltar. Cansada de me convencer que, apesar e acima do teu individualismo, estava a tal inevitabilidade a que nos submetemos e chamamos amor, pensei que, com todo o amor que sentia por ti, te iria suavizar e de alguma forma fazer parte do teu equilibrio, tornando-me subtilmemte indispensável.
Nunca pensei enganar-me tanto. mas só agora percebo que o teu amor por mim não foi uma inevitabilidade, mas uma escolha. Alguém que te chamou a atenção e que, um dia, decidiste que querias atravessar, com a intuição certeira de um animal selvagem que procura refúgio temporário, quando está cansado. Sei que não vinhas a fugir de nada, nem á procura de coisa nenhuma. Mas acho que, quando eras pequeno, te arrancaram uma parte de ti, e desde então ficaste incompleto e perdeste, quem sabe talvez para sempre, a capacidade de adormecer nos braços de alguém sem que penses no perigo de ficar na armadilha do carinho para todo o sempre.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

INSTANTES PERFEITOS

De que é feito o amor? De vontade, de tempo, de perfeição. De espera, de respeito, de paciência. De doçura, de proximidade, de generosidade. De sonho, de paixão e de alguma tristeza. Há pessoas que ficam muito tristes quando percebem que se vão apaixonar. E outras que ficam ainda mais tristes quando se apercebem de que não conseguem atingir esse estado exaltado e sublime que faz para os ponteiros do relógio, satura as cores e traz uma luz perfeita á existência.
Eu pensava que sabia o que era o amor. O amor puro, incondicional, intemporal e inabalável que resiste a tudo, ao frio, á solidão, ao vento e á chuva, ao tempo e ao modo, á ausência e á distância. Cada dia que vivi nesse estado de graça era um dia cheio, podia ser o derradeiro, porque nada contava além desse sentimento abrasador, invasor, arrebatador que tomava os membros e a alma, a cabeça, os olhos e o peito, as horas, minutos e segundos, que tomava conta da minha vida e de mim.
Não me interessava se o meu objecto amoroso, um rapaz afinal, igual a tantos outros com olhos de criança e andar elástico me amava ou me queria, tal era a dimensão do que por ele sentia. E, sem nunca desistir, habituei-me á ideia que o amor era amá-lo, mesmo na ausência, na tristeza, no vazio das minhas mãos que se davam uma á outra sem que uma terceira as agarrasse para me dizer
estás enganada, é preciso outra pessoa para construir o amor
Quando nos habituamos a dar, receber torna-se um exercício difícil, quase assustador. Quando vivemos numa elevação permanente, baixar á terra parece-nos torpe e digno. Quando somos náufragos dentro de nós mesmos, todas as praias são miragens e esquecemo-nos de procurar um porto de abrigo. E habituamo-nos a uma tristeza permanente que nos faz ver o mundo desfocado e que nos protege da luz que já fomos.
É muito difícil voltar a amar. Amar sem tempo, sem exigências, sem medo. Amar por amar, querer sem pensar, sonhar sem recear, deixar o barco partir outra vez. O barco balança, mas a ancora não sobe, as velas enrolam-se de recato e cansaço, o vento não sopra e muito pouco muda. Mas porque é impossível sobreviver no deserto ou navegar para sempre, há instantes de amor, momentos perfeitos em que sentimos outra vez o sangue a ferver, os olhos mudam de cor e as mãos voltam, por breves segundos a entrelaçar-se, quando alguém nos diz ao ouvido
estás enganada, pode ser isto amor
E pode, e deve e nós até queremos que seja, mas o coração não obedece a nada senão á sua própria vontade e o amor continua a ser um mistério que não sabemos como começa nem quando acaba. Amo alguém, mas agora vou aprendendo a amar a vida, a cor da lua quando enche, o tempo que passamos juntos, tu e eu, num sossego só nosso, feito de pequenos instantes perfeitos que se vão dissolvendo na espuma dos dias.

sábado, 5 de abril de 2008

...

A vida é tua, tens de ser tu a vivê-la, não podes deixar que ela passe por ti, tu é que passas por ela. E quando todas as laranjas cairem, apanha-as com cuidado, guarda-as num cesto e muda de profissão. O circo é para quem não tem casa nem país, não é vida para ninguem. Guarda as laranjas num cesto, leva-as para casa e faz um bolo de saudades para esquecer a mágoa. E nunca deixes de sonhar que, um dia, vais encontrar alguém mais próximo e mais generoso que te ensine a ser feliz, mesmo com todas as pedras que encontrarem no caminho. Larga as laranjas e muda de vida. A vida vai mudar contigo.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

...

Ás vezes gostava de apagar da memória o cheiro da tua carne e o peso do teu peito em cima do meu, esquecer os teus olhos que viajavam pelo meu corpo sempre á procura de mais prazer, das tuas mãos compridas que me agarravam as ancas e o cabelo. mas a memória do prazer é autonoma e traiçoeira, vem de tudo e do nada e o pior é que só serve para nos distrair da realidade, nos arrancar dos outros para depois nos devolver o coração mutilado pela saudade. Mas quando me lembro de ti, também guardo a lição de uma forma diferente de amor.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

ANDAR AO CONTRÁRIO

E ás vezes, sem saberes porquê, tudo se desfaz por entre os dedos e assistes atónica e impotente á perda irrecuperável do teu amor: ele desfaz-se em gritos, insultos e estalos, tudo se perde no ar que fica pesado como chumbo e, mergulhada no prostação do absurdo, percebes que está tudo perdido, que as palavras e os gestos te atraiçoaram para sempre, que preferes morrer a enfrentar a realidade por ti criada, alimentada pelos teus medos e dúvidas, percebes que te fodeste para sempre, que nunca mais poderás recuperar tudo o que construiste, os sonhos estatelaram-se como copos que atiraste á parede e se desfizeram em mil cacos e de repente vês a tua vida em infinitos fragmentos de vidro iguais a nada, piores que nada, porque o nada é branco e tem um principio e um sentido mas desaparece quando percebes o que te aconteceu e os vidros afinal ficam ali no chão, á espera de te apanharem num movimento menos prudente e então vais buscar uma vassoura daquelas pequenas que parecem de brincar e uma pá a condizer e tentas apanhar os fragmentos infinitos e varres com cuidado mas totalamente absorta da actividade que executas como um autónomo contrariada que de repente toma consciência de que o puseram a executar uma tarefa abaixo da sua expertie, ma mesmo asim varres tudo, sabendo que atrás da porta, ou junto ao rodapé, ou estranhamente projectado a mais de tr~es metros, há um que te vais cortar mesmo o pé e, por mais que não queiras, por mais que fujas, vais mesmo sofrer.
Ou então, depois da batida da porta que te ecoa no cerébro como uma bomba-relógio com a contagem ao contrário, vais mesmo ao armário e retiras de lá todos os copos, um a um atira-los contra a parede, o movimento do teu braço é como o de um atleta das olimpiadas a lançar o dardo, apetece-te furar o mundo em mil buracos, o efeito aplástico do vidro é admiravelmente acompanhado por um ruido estridente, um estertor de uma morte que não consegues realizar, a banda sonora perfeita para a tua alma, ou aquela merda que carregas no peito e que te alimenta ao mesmo tempo que te mata, toda partida, rebentada, desfeita em mil pedaços de memórias que não queres esquecer mas não podes lembrar e é então, quando o chão de madeira parece um tapete de faquir em fase embrionária que percebesque não és nenhum atleta, que não podes voltar atrás, rebobinar o filme e evitar a conversa, os insultos, os gritos, os gestos desmedidos e absurdos, os maus tratos de quem ama demais e não sabe viver de outra maneira e é então que te perguntas porquê.
E os dias passam, comendo a luz que te dói nos olhos e na alma e vêm as noites, e o tempo continua a perseguir-te com o vazio de um dia igual ao outro e ao outro e outro e tu só queres desistir, dormir, perder o juizo e a lucidez e voltar ao momento exactamente anterior á dor, ao vazio e á tristeza, mas é sempre tarde, é sempre demasiado tarde para voltar atrás.
Só o mundo é que anda ao contrário dos ponteiros do relógio.

...

a vida são portas condenadas
Portas que passamos, pensando que, ao as abrirmos, vamos descobrindo o mundo e arrumando o caos interno, mas afinal percebemos que á medida que os anos passam, elas se vão fechando uma a uma, nas nossas costas e na nossa cara, batendo com uma veemência esmagadora que nos deixa de braços estendidos ao longo do corpo e a perguntar em surdina porquê.
A vida são portas condenadas, primeiro fecha-se a porta da infância, dos bolinhos de lama para o lanche das bonecas, tiram-nos as rodinhas das bicicletas e dizem-nos
és capaz, tu já és capaz
A partir dai a vida estreita-se num arame cada vez mais fino e ténue e é então que vamos percebendo que viver não é mais do que precário equilibrio, uma travessia solitária pelo arame traiçoeiro que nos há-de levar a um lado qualquer que é sempre do outro lado, onde está tudo que nos convencem que queremos ou que simplesmente escolhemos como objectivo para alcançar uma coisa qualquer que gostamos de chamar tranquilidade.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

O CAMPONÊS E A RAPARIGA

Era uma vez um camponês de pensamentos simples e poucas posses que se apaixonou pela rapariga mais bonita da aldeia. Ela tinha tudo o que a ele lhe faltava: graça, inteligência, popularidade, brilho, mistério. Ela era bonita, ele igual a tantos outros. Ela era alegre e divertida, ele timido e metido consigo mesmo. Ela era fogosa e provocadora, ele mais parecia uma mosca morta. Ela tinha graça quando andava, ele parecia que tinha os sapatos pequenos para os pés. Ela brilhava, ele era fosco como uma lâmpada. Ela tinha a força do sol, ele a sombra da lua. Ela não gostava de ninguém e ele gostava dela.
Um dia, junto á fonte, declarou-lhe o seu amor e ela riu-se dele. Então ajoelhou-se aos seus pés e jurou-lhe amor eterno. Ela riu-se novamente e respondeu com escárnio e desprezo: amor eterno, isso não existe. Mas ele não desisitiu. Queria amá-la para sempre e estava disposto a honrar o seu amor por ela.
Então ela olhou para ele com mais atenção e pensou que até podia amar um dia aquele homem, tão igual a tantos outros, e lançou-lhe um desafio. Durante cem dias e cem noites ficarás debaixo da minha janela á minha espera. Faça chuva ou faça sol, caia neve ou trovoada, noite e dia, dia e noite. Cem dias e cem noites. Se aguentares tanto tempo, então é porque mereces o meu amor.
O camponês regressou a casa com o coração cheio de esperança. cem dias era um preço baixo a pagar para ter a sua amada. O tempo iria voar, tinha a certeza.
No dia seguinte, fez um farnel e foi para debaixo da janela dela. esperou que ela aparecesse e acenou-lhe quando a viu espreitar por entre as frestas das portadas. O mesmo aconteceu na segunda noite. E na terceira. E na quarta. E em todas as noites que se seguiram.
Todos os dias, a qualquer hora, lá estava ele, á espera de um sinal dela, para lhe mostrar que estav ali, de pedra e cal á espera de merecer o seu amor. Acabou o Verão. Chegou o frio. Depois a chuva. Depois a neve. E o camponês sempre perfilado como um soldado na parada, á espera que ela o espreitasse pelas portadas para lhe poder mostrar que estava ali, a cumprir o seu designio, a resgatar a sua promessa.
Nunca durante todos esses dias ela abriu a janela para o saudar. Nunca lhe abriu a porta e o convidou a entrar e descansar da sua vigilia. Nunca lhe ofereceu um sorriso, uma palavra de afecto, um instante de atenção.
Mas ele continuava lá, agora já cansado, enregelado pelo frio, ferido pela indiferença dela, desgastado pelo vento e pela chuva, faminto e triste, sentindo-se cada vez mais só...
Na nonagésima nona noite ele esperou mais uma vez por ela. E mais uma vez ela não apareceu. O camponês abanou a cabeça, sentou-se no passeio e chorou durante muito tempo. Tanto tempo que a noite passou e o dia começou a nascer.
Tantas horas de espera, tantos sonhos no seu coração, tanto amor para dar e afinal nada valera a pena. A rapariga continuava a ignorá-lo, a fazer troça do seu amor. Sentado no passeio, chorou e viu as suas lagrimas formarem um fio de água que ia ter ao rio, e este ai ter ao mar. Viu o seu amor diluir-se, sentiu que a sua paixão não era nada, comparada com outras paixões que moveram mundos, povos e montanhas. Era só mais um fio de água que corria para se juntar ao mar.
Foi então que o camponês percebeu. Percebeu que não era ele que não era digno do amor dela, ela é que não merecia o amor dele. Que tudo o que ele amava naquela rapariga era uma ilusão, não existia. Que o seu esforço só lhe tinha servido para aprender a conhecer-se e a aceitar-se melhor a si próprio. Era um homem livre.
E no dia seguinte, quando ela abriu a porta para se entregar a ele, rendida por tanto amor e paixão, ele tinha-se ido embora.

sexta-feira, 28 de março de 2008

DIAS OFF

Há dias em que me sinto vazia, como se um cansaço imenso e letárgico se tivesse instalado sem pré-aviso e me tolhesse o coração e o espírito. São dias em que acordar é pior do que ter um pesadelo e levantar-me da cama me parece mais difícil do que atravessar o Atlântico a nado. Manhãs submersas em recordações e saudades, a sonhar calada tudo o que quis e nunca tive, mais o que já mereço mas ainda não alcancei. Nesses dias, em que há sempre pouco sol mas a chuva ainda não desceu à terra para a lavar e a sacudir, só me apetece ficar quieta e esquecer o mundo, na esperança que o mundo, por um dia, também se esqueça que existo. Gosto da sensação de me subtrair e desaparecer magicamente, partir sem deixar rasto, esconder-me de todos e de mim própria para ver se me encontro.
Nesses dias de recolhimento e segredo passo a minha vida em revista, olho para trás e vejo tudo como num filme, saboreio os melhores momentos pela memória fresca das boas recordações e salto com a maior rapidez que posso os maus, esperando que um dia os consiga esquecer de vez.
É nestes dias que me vem à memória o cheiro a bafio das casas de verão, o arrepio na espinha quando subia as escadas da camarata na casa da quinta dos meus avós e imaginava ratazanas gigantes a dançar no soalho incerto e ruidoso onde se apoiavam meia duzia de camas de ferro que há muito não viam uma lata de tinta. Ou o vento fresco das madrugadas solitárias a caminho do choupal, sozinha a cantarolar, carregando canas e cordas para, bem no centro do arvoredo conversador e aconchegante constrir a minha primeira cabana, o meu primeiro e mais delicioso refúgio, onde o canavial se cruzava em paredes que se levantavam por meio de cordas e o tecto era forrado a sacos de adubo abertos ao meio que pareciam uma bateria furiosa quando as chuvas de Outono apareciam de repente, deixando-me ainda mais isolada, no meio do verde, da agua e dos meus sonhos de menina pequenina que ainda não cresceu. E o nariz exala ainda o cheiro da agua corrente no tanque onde os limos faziam o chão parecer um ringue de patinagem aquatica e do medo de mergulhar sem controlar a respiração. Ou dos passeios de bicicleta e daquela vontade incontrolável de passar o portão, quando era exactamente iso que não podiamos fazer. A vontade de explorar outros lugares, outros pomares e vinhas, outras hortas e jardins, de conhecer vizinhos misteriosos e entabular conversa com os caseiros das outras casas ou os habitantes da aldeia que passavam a pé, como quem nunca tem pressa, aos domingos, a caminho da igreja, lá em cima no largo, com o inevitável campanário e o inevitável padre míope e seráfico, desdobrado em homilias vagas e pouco convenientes, recordando os mortos e os casados, os baptizados e outros fiés consagrados a votos católicos, numa ladainha de nomes e apelidos entre Josés, Anacletos, Eufrázias, Santos, Gomes e Ferreiras.
Nos dias off, apetece-me que a minha casa se tranforme numa concha com um frigorifico cheio de iogurtes e uma estante com os melhores livros da minha vida. Nesses dias de esquecimento voluntário do mundo, desligo os telefones, penso que o que quer que aconteça não pode ser nem tão urgente nem tão importante que não possa esperar mais 24horas e rezo a um deus qualquer que me tire desta letargia solitária e imensa, onde me afogo para não desaparecer. Mas espero ainda um sinal do mundo, um livro ou um disco enviados pelo correio ou um ramo de alfazemas, que me aqueça o coração e me faça pensar que apesar de tudo ainda vale a pena estar viva.

terça-feira, 25 de março de 2008

AMORES IMPOSSIVEIS

Todas as pessoas na vida têm um amor impossivel. Um caso antigo mal resolvido, uma paixaão platónica nunca consumada, o primeiro namorado, a primeira rejeição. Todos o temos. É parte indissociável do nosso património afectivo. Pode ser tão insignificante como aquele rapaz do oitavo ano que se sentava na carteira ao lado, ou mais profundo como a paixão pelo melhor amigo do nosso irmão, a inclinação poética e inconfessada pelo namorado da irmã mais velha, ou um primo afastado que nos deu atenção quando já eramos gente mas ainda ninguem tinha reparado.Os amores impossiveis são encantadores. E o objecto desse amor, uma pesoa afinal tão igual a qualquer outra, cheia de defeitos e exigua em qualidades é, aos nossos olhos, um ser perfeito, iluminado por Deus, intocável e irresistivel.O nosso amor impossivel é sempre o mais giro, aquele que tem mais charme, os olhos mais azuis e o cabelo mais graciosamente ondulado, o mais perfeiro corpo e a melhor presença, o mais sensual e o mais bem educado. Também o vemos como um herói profissional que desempenha as suas funções melhor que ninguém. Ele é o neurologista mais credenciado, o engenheiro mais competente, o arquitecto mais premiado. A vestir, ele é o que demonstra mais subtileza e requinte. Usa botões de punho como ninguem, e tem sempre fatos irrepreensivelmente enfomados. E claro, usa um perfume, qual o segredo de alquimia, que só ele conhece ou que só nele provoca tão devastador efeito, o de nos fazer cair para o lado só de o sentirmos por perto. E quando fala, ai quando fala, tem o timbre inconfundivel de voz que nós tanto amamos, usa as palavras como só ele sabe e quando ri, então é como se o paraiso tivesse descido a terra e não existisse mais nada, porque tudo o que mais queremos está ali, naquela pessoa.Isto acontece nas raras vezes em que a sorte estve do nosso lado e nos juntou, porque a maior parte das vezes ele vive apenas na nossa memória. E quando fechamos os olhos para o recordar, ele caminha para nós com o passo firme e seguro de um grande senhor e diz-nos tudo aquilo que nós tanto gostariamos de ouvir e que provavelmente nunca lhe terá passada pela cabeça. Para nós, ele é o Principe encantado, ser perfeito e intocável que o nosso destino ou uma loura de cabelo escortanhado incompreensivelmente nos roubou.Outras vezes, ele é uma migo muito próximo, demasiado próximo porque lhe demos excessiva confiança e já caimos na asneira de o amarmos sem exigir nada em troca. É por causa dele que nos metemos horas a fio na cozinha a inventar pratos que com o juizo perfeito nunca nos arriscariamos a fazer. Por causa dele vamos á ginástica, usamos cremes para reafirmar a pele e fazemos tratamentos de cabelo dos quais só nós vemos o resultado. E ele entra e sai da nossa vida conforme lhe dá na gana e ás vezes, num arremesso de insensibilidade tão habitual num homem, relata todas as conquistas e desabafa as tampas que levou. E nós engolimos em seco, mas aguentamo-nos até ao fim e só quando a porta bate é que a tristeza e o desespero chegam para se vingarem da nossa estupida e inutil abnegação. São assim, os amores impossiveis. É impossivel viver sem eles e insuportavel vivê-los. Habituamo-nos a eles como uma chaga cujas cicatrizes nos hão-de dar, ao menos, uma medalha de heroismo. É claro que o nosso amor é impossivel porque sempre o foi. O que quer apenas dizer em bom português que nunca nos ligou o suficiente para nos sentirmos possiveis na vida dele. Mas em vez de nos desmotivar, esse quase desprezo que é um misto de complac~encia e egoismo, faz crescer em nós a vontade absurad e inesgotavel de lutar por ele. Só porque o orgulho e a teimosia nos conduzem cega e inultimente a desejar sempre o que não temos.Mas um dia a sorte pode mudar, Ele aluga a casa do lado ou vem trabalhar para a nossa empresa. E não há fome que não dê em fartura. Estamos com ele de manha, á tarde e a noite, cruzamo-nos no corredor, temos reuniões e pela primeira vez conversamos e olhamos com olhos de gente para o nosso idolo. E a pouco e pouco o pedestal vai baixando como um elevador do principio do século, lentamente e sem dor, até ao nivel da nossa esquecida lucidez.O encanto quebra-se a cada defeito que nos salta escandalosamente á vista. Enterrados os sonhos, pouco ou nada resta. Ás vezes, uma boa amizade e uma dose de riso que levamos para casa e que tomamos todos os dias por termos sido tão ingenuamente enganados por nós próprios durante tantos anos.

segunda-feira, 24 de março de 2008

VAI

Vai, apanha esse avião que te leva para o outro lado do mundo, esconde-te daqueles que te amam e fecha-te na tua concha o tempo que for necessário. Vai e não olhes para trás, não te arrependas daquilo que não fizeste, escolhe um canto no mundo onde ninguém te conheça e a lingua seja dificil para que não caias na tentação de comunicar.
Leva um punhado de livros e algumas músicas eternas, papel e envelopes para mandar missivas a quem te apetecer, ou então uma garrafa com uma rolha bem forte para poderes atirar ao mar os teus segredos e esperar que o destino se encarregue de conduzir o curso das águas a teu favor.
Parte para longe, dá a ti próprio um número indefinido de dias de solidão e recolhimento, fecha-te nas tuas dúvidas e nos teus medos, não os mostres ao mundo porque o mundo está sempre á espera dos teus fracassos para os expiar, lembra-te daqueles que sempre te amarão onde quer que estejas, resguarda-te de todos aqueles que só te querem bem quando estás bem e te esquecem quando desapareces, parte vazio e preparado para a travessia no deserto da tua alma cansada e triste e não olhes para trás.
Escolhe um destino exótico, onde o calor te entorpeça os membros e o sol te cegue o olhar, com água tépida e salgada que te retempere o corpo e o espirito. Dorme sossegado na areia, á sombra de uma palmeira, olha as crianças que brincam á beira-mar sem imaginarem a tristeza que os espera quando aprenderem que o amor quase nunca é feliz e raramente se sente ao mesmo tempo da mesma maneira.
Dorme muito, que o sono arruma o coração e sossega os afectos, acorda devagar e goza o sabor do sol na pele, depois lê um bom livro e mergulha na dor das histórias alheias até que a tua própria dor se desvaneça sob o véu da distância e da saudade.
Leva contigo ainda uma caixa de chocolates e outra de aspirinas, a primeira para comer sempre que te lembrares de mim e a segunda para o que der e vier. E ainda uma bússola par não te perderes no regresso e sbaeres como voltar a casa. Não lamemtes a tua tristeza, mergulha nela como um peixe na água, esgota-a em lágrimas e gritos, e depois deita-a fora quando já não te servir para nada e não for mais do que um peso morto e ultrapassado na tua consciência.
Vai, vai antes que seja tarde e não tenhas coragem de partir, não te despeças de mim que eu fico por cá a ver-te partir e a rezar a um deus qualquer que voltes inteiro, reencontrado e pacificado dos teus tormentos, pronto para voltar a ver na vida tudo o que ela tem de bom e que ainda não te deu. Vai com cuidado, não tenhas pressa em regressar, demora o tempo que for preciso, guarda na memória as minhas mãos abertas, o meu apoio incondicional, o meu desejo profundo e terno que encontres o teu caminha, mesmo que eu não faça parte dele, mesmo que nunca mais te veja e que a minha vida me dê outras rotas e destinos.
Vai meu amor, vai que o amor tem que ter asas para poder voar, tem que ter portos para se abrigar, tem que ter distãncia para se saborear, tem que sentir a ausência para se poder dar. Vai com cuidado nessa tua busca de ti mesmo e nunca te esqueças que podes voltar e que cá estarei á tua espera, não sei se para te amar, mas para te poder receber com o meu coração e a minha cabeça. E quando regressares, promete-me que me trazes um presente, feito de saudades e desejo que alimente este meu coração cansado mas nunca esquecido do teu cheiro e da tua cor.






LOVE U

domingo, 16 de março de 2008

ÁS VEZES

Ás vezes é preciso aprender a perder, a ouvir e não responder, a falar sem nada dizer, a esconder o que mais queremos mostrar, a dar sem receber, sem cobrar, sem reclamar. Ás vezes é preciso respirar fundo e esperar que o tempo nos indique o momento certo para falar e então alinhar as ideias, usar a cabeça e esquecer o coração, dizer tudo o que se tem a dizer, não ter medo de ouvir não, não esquecer nenhuma ideia, nenhum pormenor, deixar tudo bem claro em cima da mesa para que não restem duvidas e não duvidar nunca daquilo que estamos a fazer.
E mesmo que a voz trema por dentro, há que fazê-la sair firme e serena, e mesmo que se oiça o coração a bater desordenadamente fora do peito é preciso domá-lo, acalmá-lo, ordenar-lhe que bata mais devagar e faça menos alarido, e esperar, esperar, esperar que ele obedeça, que se esqueça, apagar-lhe a memória, o desejo, a saudade, a vontade...
Ás vezes é preciso partir antes do tempo, dizer aquilo que mais se tem a dizer, arrumar a casa e a cabeça, limpar a alma e prepará-la para um futuro incerto, acreditar que esse futuro é bom e afinal já está perto, apertar as mãos uma contra a outra e rezar a um deus qualquer que nos dê força e serenidade. Pensar que o tempo está a nosso favor, que a vontade de mudar é sempre mais forte, que o destino e as circunstâncias se encarregarão de atenuar a nossa dor e de transformar numa recordação ténue e fechada num passado sem retorno que teve o seu tempo e a sua época e que um dia também teve o seu fim.
Ás vezes mais vale desistir do que insistir, esquecer do que querer, arrumar do que cultivar, anular do que desejar. No ar ficará para sempre a duvida se fizemos bem, mas pelo menos temos a paz de ter feito aquilo que devia ser feito, somos outra vez donos da nossa vida e tudo é outra vez mais fácil, mais simples, mais leve, melhor.
Ás vezes é preciso mudar o que parece não ter solução, deitar tudo abaixo para voltar a construir do zero, bater com a porta e apanhar o comboio no derradeiro momento e sem olhar para trás, abrir a janela e jogar tudo borda fora, queimar cartas e fotografias, esquecer a voz e o cheiro, as mãos e a cor da pele, apagar a memória sem medo de a perder para sempre, esquecer tudo, cada momento, cada minuto, cada passo e cada palavra, cada promessa e cada desilusão, atirar com tudo para dentro de uma gaveta e deitar a chave fora, ou então pedir a alguem que guarde tudo num cofre e que a seguir esqueça o segredo.
Ás vezes é preciso saber renunciar, não aceitar, não cooperar, não ouvir nem contemporizar, não pedir nem dar, não participar, sair pela porta da frente sem a fechar, pedir silêncio, paz e sossego, sem dor, sem tristeza e sem medo de partir. E partir para outro mundo, para outro lugar, mesmo quando o que mais queremos é ficar, permanecer, construir, investir, amar. Porque quem parte é quem sabe para onde vai, quem escolhe o seu caminho e mesmo que não haja caminho porque o caminho se faz a andar, o sol, o vento, o céu e o cheiro do mar são os nosso guias, a unica companhia, a certeza que fizemos bem e que não podia ser de outra maneira. Quem fica, fica a ver, a pensar, a meditar, a lembrar.
Até se comformar e um dia então esquecer!


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Ás vezes a dor é tão grande que não medimos as consequências, fazemos loucuras, dizemos e pensamos em coisas que não fazem qualquer sentido. Por isso e por tudo mais, a ti te peço mil e uma desculpas. Já pode ser tarde, mas nunca é tarde para mudar, para voltar a acreditar! Acredito e vou mudar! Porque lá no fundo à a esperança, a esperança que tudo isto seja um sonho e que um dia vou acordar, ou não! Acorde ou não, eu vou estar sempre aqui, do teu lado, para o que der e vier, serei a tua cabeça, os teus braços, as tuas pernas, o teu coração... serei tudo o que precisares que eu seja!




FRIENDS 4EVER


LOVE U