segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O ADMIRÁVEL MUNDO DA MODA...


Depois de uma frustrada volta pelos centros comerciais e lojas de marca, cheguei à triste conclusão que estou fora de moda. Ou então é a moda que está fora das lojas. Ou talvez se tenha dado o caso da moda estar fora de si, o que de qualquer modo me põe fora de mim.
A moda é um fenómeno estranho, irritante e absurdo. Meia dúzia de figuras com as pecto bastante critico - vide Jean Paul Gaultier - são os iluminados que ditam a moda com quem dita cartas à secretária: "Ex.mos Senhores, este ano a moda vai ser...". E despejam tudo o que lhes passa pela cabeça sem o menor respeito pelas compras que fizemos o ano anterior, elaborando um chorrilho de conceitos vazios sobre tecidos, cortes, linhas, texturas, tendências e oiyros aspectos do assunto. E nós mulheres, absorvemos as informações como um rebanho com mixomatose e perdemos o gosto. Dou por mim a namorar sapatos que há um ano achava absurdos e a usar risca ao meio que duarante décadas achei piroso. Sinto-me um ser letal e impotente perante a moda. È como se tivesse perdido o poder de análise, a capacidade de escolher, o gosto de observar, o jeito para me arranjar. A moda acefalizou-me.
O que mais me fascina na moda é a sua linguagem própria e inimitável!
O que é um facto é que não me sinto na moda e isso irrita-me. O que eu sempre temi está a acontecer. Estou a ficar clássica, demodée!
Lanço um apelo a qualquer alma caridosa que me queira ajudar. Será que ninguém da moda me quererá por na moda? As minhas preferências vão para o Giorgio Armani e José António Tenente, mas não sou esquisita!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

OS HOMENS DEVIAM VIR COM LIVRO DE INSTRUÇÕES!


Nunca fui boa com máquinas!

Não consigo perceber os homens. Primeiro, porque não vêem com livro de instruções. Segundo, porque mesmo que viessem, os principios que se aplicam a uns não são necessariamente os mesmos que se aplicam a outros. Às vezes um manual de instruões dava jeito. Não para livro de cabeceira, mas do género dicionário, para consultar de vez em quando, sempre que uma dúvida nos assalta e não queremos meter a pata na poça.

Continuo na minha: os homens deviam vir com manual de instruções. Uma edição barata, tipo livro de bolso, mais ou menos do tamanho da bolsinha das pinturas. Dava mesmo jeito. Porque uma pessoa não consegue perceber e adivinhar tudo. Por exemplo, o que quer dizer: és muito gira, depois telefono-te! É amanha ou no próximo milénio? Também não percebo quando dizem que têm saudades, mas depois empanturram a semana com reuniões e jantares de trabalho. Ou quando passam horas a fio ao telefone às segundas e sextas a dizerem-nos porque é que somos fantásticas, mas não ligam terça, quarta, nem quinta. Se um dia começar a perceber alguma coisa, talvez me aventure a escever um manual. Mesmo que já seja demasiado tarde para aplicar alguma coisa que entretanto aprendi, sempre fica para a próxima geração.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

OS GLORIOSOS MALUCOS DAS MÁQUINAS MOTORAS!


O melhor exemplo que o trânsito transtorna irremediavelmente a saúde mental dos portugueses é essa famigerada raça que amaldiçoamos o ano inteiro, excepto nos dias em que o carro foi parar à revisão, ou um pneu se furou estupidamente numa tampa da EPAL, mal assente. Nesse raros dias, os toleramos porque precisamos deles.
O taxista é por definição um animal urbano enraivecido pelos peões indisciplinados, pelos sinais sempre fechados, pelos sentidos proibidos que passam a vida a ser mudados, pelos clientes que nunca têm trocados, mas sobretudo pelos outros automobilistas que eles consideram uns asnos acabados. E como todos os ódios cultivados, este também não deixa de ser reciproco.
Mas a principal razão que nos faz odiar estes homens, além do seu aspecto pouco lavado e digno: unha do dedo mindinho comprida, cabelo oleoso, barriga proeminente e umbigo atrevido e peludo, cotovelo de fora e bronzeado à bimbo, é, em primeiro lugar o facto de eles serem muitos. Não é só a sua maneira arrogante de conduzir, atravessando-se nas nossas barbas como se a direita estivesse sempre do lado deles, ocupando duas faixas ou parando ostentivamente no eixo da via (como dizem os instrutores), quando dois metros à frente há uma paragem de autocarro onde podiam ter encostado para nos deixarem passar, etc, etc, etc...
Tudo isso é mau, mas não é o pior. O pior é que eles são muitos e estão em toda a parte. Porque além de serem aos milhares, estão bem organizados e têm noção de classe. Não são um sindicato, são uma máfia.
Os taxistas, no fundo, são como as abelhas, com todos os defeitos destes voadores e sem nenhuma das suas qualidades: chateiam em separado, mas em conjunto podem matar.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

VIDA DE CÃO...


Tenho um cão!

Uma criatura com 50 cm de comprimento,palmo e meio de altura e uns olhos esbugalhados enfeitados por um par de orelhas espetadas, tudo isto plantado num rolo de carne feito de boa comida. Chama-se Faruk. O Faruk é um produto acabado da sociedade de consumo e, devia ser copiado pelos japoneses para suceder ao Tamagoshi. Gosto do Faruk porque ele é, afinal um ser perfeito, dentro da sua insignificância, coerente consigo mesmo e com o mundo que o criou. O Faruk é espalhafatoso e tem pujança, ladra com persistência e convicção, duas oitavas acima do que seria admissivel para uma macho e, passa o dia á janela a bisbilhotar a vida alheia. Os olhos que parecem duas bolas de ping-pong tingidas observam atentamente cada movimento de pessoas, carros e outros animais.

Mas o que se passará na cabeça do Faruk? O que pensará este ser sobre a onde de criminalidade que há no nosso país? Que opinião terá este ser quase humano sobre a clonagem, o buraco de azono, as férias no Algarve?

Quando olho para o Faruk não vejo um cão, vejo uma porteira velha e ociosa que gosta de bisbilhotar a vida alheia, fala pelos cotovelos com as vizinhas com quem ainda não se zangou e derrama lágrimas de crocodilo no enterro do marido que envenenou. Quando olho para o Faruk vejo os milhares de portugueses que vivem sem trabalhar, peritos em meter baixas e em outras artimanhas de exploração alheia, habituados a não trabalhar para sobreviver, encostados a uma amante rica ou um senhor de posses que não se importa de pagar as contas em troca de carne quente uma ou duas vezes por semana. O Faruk, que dormita durante o dia é a dona de casa inútil que não sabe como ocupar os dias desde que o marido, promovido de pedreiro a empreiteiro quis fazer dela uma senhora e contratou uma criada interna. E quando ladra e desperta em mim os instintos mais violentos e assasinos, oiço as vozes dos estudantes nos cafés a tagarelarem, criticando os professorese a sociedade, convencidos que um dia vão ter o mundo na mão só porque vão andar de canudo debaixo do braço, licenciados, na feliz ignorância das leis do mercado de trabalho. O Faruk é quase uma pessoa, nos seus tiques de filho adoptivo, nos seus ataques de sensibilidade.

No fundo eu invejo o Faruk. O faruk nunca tem pressa, nem contas para pagar, não precisa de ir ao supermercado nem de despejar o lixo, não cozinha nem paga impostos e não atura ninguem. O mundo é que o atura a ele.

Se isto é que é vida de cão vou ali e já venho!