sexta-feira, 31 de outubro de 2008

ESPERA....



Não, não partas já. Espera mais um pouco ainda, espera que o tempo passe e te apazigue a alma, te arrefeça os ímpetos e te faça voltar á terra, a essa estúpida e reguladora rotina que te rege os dias e as noites e te faz sentir que afinal és uma pessoa normal, dono da tua vida e do teu coração. Espera só mais um momento, deixa que o silêncio perpetue os nossos momentos de perfeição, a comunhão das nossas almas num desjo duradouro e certo que o tempo não mata, só ajuda a cimentar, que a distância não destrói, só ajuda a alimentar.

Espera só mais um instante, até que a tua memória quente cristalize os nossos momentos e os preserve como um tesouro secreto por mais ninguém descoberto e cobiçado. Guarda bem esses instantes, num lugar qualquer entre a tua cabeça e o teu coração, que deve ser mais ou menos onde se situa a alma e espera que o tempo te diga se o que sentes vai crescer e dar sentido à nossa vida.

Espera só mais um ou dois minutos, eterniza este abraço, grava-o na tua memória para que amanhã e depois, e depois ainda, o possas sentir outra vez, que ele te acompanhe e te ajude, te dê apoio e protecção, te faça sentir amado e desejado.

Mas espera, espera um pouco ainda, espera, porque a espera é o tempo de deixar crescer aquilo que há-de ser. É sempre pouco, quando se tem tanto para dar. E receber.


quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O TEMPO QUE FOR PRECISO (PARTE I)


O TEMPO está para o AMOR como o vento está para os incêndios; apaga os FRACOS e ateia os mais FORTES. É uma espécie de teste, uma prova cega, uma forma inequivoca de clarificar a essência daquilo a que tantas vezes queremos chamar AMOR e que ainda não é mais do que o minusculo embrião de futuro INCERTO e tantas vezes IMPROVÁVEL.
O TEMPO está para o AMOR como o vento está para os incêndios. Alastra repentinamente, TRAIÇOEIRO e sem aviso, vai para lugares onde nunca pensamos que pudesse sequer chegar, faz-nos TEMER, SOFRER, REZAR dá-nos vontade de LUTAR para o COMBATER, porque não sabemos para onde vamos, o que queremos nem se seremos os mesmos depois do fim... e por isso receamos ofim antes mesmo do principio, imaginamos cenários apocalipticos para PROTEGER o coração cansado e errante que não quer ainda, apesar de tudo, parar para pensar ou escolher um lugar.
O TEMPO está para o AMOR como está para tudo o resto na vida. É o que nos dá MATURIDADE, que nos ensina a distinguir o que é urgente daquilo que é mesmo importante, que nos mostra onde estão os verdadeiros amigos, que nos dita quais os PRINCIPIOS pelos quais nos regemos e como devemos lidar com as nossas FRAQUEZAS. O TEMPO ensina-nos a viver com os DEFEITOS e a respeitar as DIFERENÇAS dos outros. Dá-nos SABEDORIA, TOLERÂNCIA, OBJECTIVIDADE e CLAREZA MENTAL. Afasta as DUVIDAS e as HESITAÇÕES. Poupa-nos de DECEPÇÕES e ENGANOS. Abre-nos os olhos quando somos os unicos a não ver. E dá-nos força para continuar, mesmo que o AMOR seja uma AUSENCIA, uma PERDA, uma FALTA, uma DESILUSÃO.
Tantas vezes se consome a si próprio, tantas vezes é tão fácil de apagar, para depois se reacender, volta a vacilar, incerto e inseguro, quente mas efémero, forte mas fálivel, romântico mas tantas vezes superficial...

terça-feira, 7 de outubro de 2008

KENS E BARBIES!!


O Ken está para a Barbie como o pão está para a manteiga: foram feitos um para o outro. A Barbie é fútil, vazia, irritante, pirosa, peneirenta. O Ken é paspalhão, cabotino, caramelo, convencido, embora não convença ninguém, sempre vai dando a volta á Barbie.
O país por excelência dos Kens e das Barbies é a América. Não há série televisiva, por mais ranhosa que seja, que não tenha uma loira patriótica e bem nutrida, de lábios generosos e decotes filantrópicos, a qual é irremediavelmente salva por um jovem garboso e bem parecido, de cabelos ondulados e olhos claros, caparro de Mohamed Aali e inteligência de cão de circo. E o nosso Portugalinho, pródigo em tudo imitar, também tem o seu pequeno mundo de Kens e Barbies. Elas muito louras e esticadas, com saias de mão-travessa e eles de blazers de botões dourados, lenços de lapela, sapatos de berloques e charutos em dias de festa.
Os Kens nacionais são aqueles que vão á Kapital, passam horas a penteaar-se nas casas de banho, que não se importam de passar fome para ter o ultimo modelo do BMW com o mais pequenos e portátil dos portáteis. Estes pequenos homens descobriram que, sendo Kens, o mundo cairia com mais facilidade aos seus pés, mas o mundo deles reduz-se ao universo das Barbies.
Os nossos Kens até podem ter charme, mas é o charme ribatejano que se civilizou há uma ou duas gerações. A educação até pode ser esmerada, mas os palavrões estão lá, para o que der e vier. E até podem ser bem parecidos e ter boa figura, mas engordam e embarrigam com excessiva facilidade.
O grande problema é que Portugal está cada vez mais cheio de Kens, enquanto as Barbies vão desaparecendo aos poucos. As mulheres já perceberam que não vale a pena serem bonecas e empastarem a cara de cremes, que mais vale dormir muito e fazer ginástica. Mas é exactamente quando as portuguesas estão a descontrair-se que os portugas se estão a apirosar, ou pior ainda a amaricar, com cremes exfoliantes, pijamas de seda, perfumes fortes e gravatas floridas.
Os Kens de Portugal estão a desvirtuar o português de gema, que fazia a barba sem espuma e se lavava com sabão azul, andava a cavalo o dia todo e só tirava as botas para dormir. Ainda bem que a civilização chegou aos homens, mas não convém abusar. Até porque as Barbies, que passam metade do dia a arranjarem-se para estarem impecáveis a outra metade, não aguentam durante muito tempo ao seu lado uma criatura tão enfadonha e desinteressante como elas.