Não há nada melhor do que estar apaixonado. Nem pior! Primeiro estranha-se. Depois, entranha-se. A paixão dá para tudo. Para rir e chorar, fazer confidências, namorar ao luar abeber coca cola de lata e sentir-se mais feliz do que se se estivesse no quarto 611 do Hotel Ibis a beber vinho do porto.Estar apaixonado é um estado de graça e de desgraça. Tira o sonoe dá speed. Rouba a fome e mata a sede. Perde-se a noção do tempo, espaço, até do ridículo. Ganha-se força, vontade, desejo e anos de vida.Estar apaixonado é investir uma fortuna que demorou anos a amealhar num negócio de alto risco. E ainda por cima fazê-loconscientemente. Porque a paixão é melhor do que qualquer bebida, droga ou paraíso terrestre. Uma pessoa apaixonada vai onde quer porque passa de repente a desconhecer os seus limites. Vê-se, sem perceber bem como, a fazer coisas impensáveis como escrever umgrafite no prédio em frente à casa do namorado, AMO-TE Ó NUNO ALMEIDA! O Nuno Almeida cora, mas adora. E suspira, suspira muito porque quem está apaixonado vive a suspirar. Mas a paixão também tem o seu reverso. Uma pessoa fica diminuída. Moída. Distraída. Torna aspessoas inteligentes em, seres simples, e os seres simples em criaturas acéfalas. Faz pessimamente à saúde. Provoca insónias, suores frios, falta de apetite, obsessão por chocolates, tonturas, olheiras, borbulhas. Faz subir a tensão e provoca taquicardia. Às vezes,até faz o cabelo ficar oleoso, mas só em casos de extrema gravidade.E há que, sofra muito. Quem se queixe por se sentir reduzido a nada, estafado com tanta adrenalina. quem chore por estar tão feliz. Quem alimente a ansiedade e telefone 50 vezes numa manhã para o seu maisque tudo, que por acaso está a apresentar novos métodos e técnicas de vendas na empresa depois de ter sido promovido.Assim ficam os apaixonados. Poéticos, extasiados,anestesiados, prostrados, ou para quem está de fora, aparvalhados.Estar apaixonado dá um trabalhão. Cansa e não dá descanso. Mata-se e esfola-se por um nada de nada. Estarapaixonado é como partir à procura de um tesouro, qual Indiana Jones, mas sem pistola nem chicote. Não só ficamos completamente desarmados como nos tornamos em seres indefesos. Ficamos à mercê do mundo e, pior ainda, de nós próprios.É preciso viver a paixão até aofim, mesmo que seja amanhã, porque o que conta é o que se sente aqui e agora. A paixão faz-nos sentir prisioneiros e livres ao mesmo tempo. E não há melhor do que saber que se tem asas e preferir não voar, só para ficar no ninho e esperar que um dia um ovo choque e dele nasça o fruto da paixão.