sexta-feira, 12 de setembro de 2008

VIDA DE CÃO...


Tenho um cão!

Uma criatura com 50 cm de comprimento,palmo e meio de altura e uns olhos esbugalhados enfeitados por um par de orelhas espetadas, tudo isto plantado num rolo de carne feito de boa comida. Chama-se Faruk. O Faruk é um produto acabado da sociedade de consumo e, devia ser copiado pelos japoneses para suceder ao Tamagoshi. Gosto do Faruk porque ele é, afinal um ser perfeito, dentro da sua insignificância, coerente consigo mesmo e com o mundo que o criou. O Faruk é espalhafatoso e tem pujança, ladra com persistência e convicção, duas oitavas acima do que seria admissivel para uma macho e, passa o dia á janela a bisbilhotar a vida alheia. Os olhos que parecem duas bolas de ping-pong tingidas observam atentamente cada movimento de pessoas, carros e outros animais.

Mas o que se passará na cabeça do Faruk? O que pensará este ser sobre a onde de criminalidade que há no nosso país? Que opinião terá este ser quase humano sobre a clonagem, o buraco de azono, as férias no Algarve?

Quando olho para o Faruk não vejo um cão, vejo uma porteira velha e ociosa que gosta de bisbilhotar a vida alheia, fala pelos cotovelos com as vizinhas com quem ainda não se zangou e derrama lágrimas de crocodilo no enterro do marido que envenenou. Quando olho para o Faruk vejo os milhares de portugueses que vivem sem trabalhar, peritos em meter baixas e em outras artimanhas de exploração alheia, habituados a não trabalhar para sobreviver, encostados a uma amante rica ou um senhor de posses que não se importa de pagar as contas em troca de carne quente uma ou duas vezes por semana. O Faruk, que dormita durante o dia é a dona de casa inútil que não sabe como ocupar os dias desde que o marido, promovido de pedreiro a empreiteiro quis fazer dela uma senhora e contratou uma criada interna. E quando ladra e desperta em mim os instintos mais violentos e assasinos, oiço as vozes dos estudantes nos cafés a tagarelarem, criticando os professorese a sociedade, convencidos que um dia vão ter o mundo na mão só porque vão andar de canudo debaixo do braço, licenciados, na feliz ignorância das leis do mercado de trabalho. O Faruk é quase uma pessoa, nos seus tiques de filho adoptivo, nos seus ataques de sensibilidade.

No fundo eu invejo o Faruk. O faruk nunca tem pressa, nem contas para pagar, não precisa de ir ao supermercado nem de despejar o lixo, não cozinha nem paga impostos e não atura ninguem. O mundo é que o atura a ele.

Se isto é que é vida de cão vou ali e já venho!

1 comentário:

RaquEL disse...

Também não percebo a semelhança entre a vida cansada de um ser humano com a vida de um cão! A única justificação que encontro é a de banalizar a nossa vida estafante e dolorosa (às vezes d= ) comparando-a com a vida passífica e tranquila de um cão.

Não me conheces, eu também não te conheço, mas gostei do teu blog!
Juntei aos meus favoritos, espero que nao te importes!
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