
Há dias assim, cheios de vida e de luz, em que se acorda já de olhos abertos e o coração cheio, se canta no duche e se dizem coisas com graça. Dias onde só há sol e calor, vontade de rir e de dizer disparates, de formular desejos sem pedir nada, de dizer tudo sem falar. Há dias que fazem uma sucessão leve e fácil de horas correrem umas atrás das outras, sem peso nem cansaço, apesar da ressaca, dos olhos inchados, do passo incerto e da memória pródiga em encontrar as chaves do carro e os óculos escuros. Sãos dias em que não nos sentimos donos do mundo, mas de nós mesmos e daquilo que queremos, o que é muito melhor e mais importante. Há dias assim, em que tudo bate certo. Dias abençoados por aquele bem estar único e delicioso. Há dias assim, em que nos sentimos lúcidos, estamos bem connosco e com os outros, apetece-nos passear, brincar ás escondidas, apanhar o comboio, andar a pé e correr este e aquele bar, só pelo prazer de descobrir uma companhia que nos ouve e nos conta o que lhe vai na alma, sem medos nem esquemas de sedução. Há dias assim, cheios de sol e de luz, em que a música invade a casa desde cedo e fica no ar o cheiro de quem partiu e queria ficar, apetece tudo menos voltar para a cama e dormir. Há dias assim, abençoados pela sorte e protegidos por um invisivel duende que se ri aos nossos ouvidos. Não tem nome este estado de graça, de se sentir a vida a pulsar debaixo da pele e coragem para fazer tudo o que ainda não conseguimos. Não tem nome, nem pode ter, porque é tão forte e tão grande que não cabe num dicionário.