terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A COR DAS SAUDADES!


De que cor são as saudades? Brancas, mesmo no principio, quando só vemos azul, o azul infinito de todos os começos, ou então daquele amarelo-claro, cor de quarto de menina no principio do século, suaves, diáfamas, quase imperceptiveis. Saudades brancas, as da infância, dos lanches com a avó nas pastelarias da moda, dos Natais em familia, da primeira vez que ficámos de castigo na escola. São saudades doces, pacificadas, confortáveis, familiares, quase sempre permanentes e no entanto guardadas na memória.
Depois, e por grau de importância vêm as saudades de cores berrantes da adolescência, da primeira vez que o coração começou a bater mais forte, da primeira vez que se ousou dar a mão, do primeiro chumbo no liceu, daquele primeiro acto de rebeldia. São as saudades rebeldes, vermelho vivo, azul turquesa, cor de laranja, numa mistura de cores e sabores agri-doce de que é feita toda a idade do armário, quando nos fechamos para o mundo convencidos que o temos na mão.
Depois vêm as saudades do primeiro amor. Do primeiro beijo, das cartas trocadas. Saudades dos beijos dados ás escondidas nas escadarias do liceu ou na paragem do autocarro deserta. Saudades da primeira noite de paixão em que prometemos este e o outro mundo. E depois, saudades da primeira vez que nos rejeitaram, o peito inexperiente a sangrar, as lágrimas descontroladas e a voz a tremer, as noites de insónias...
Gosto de imaginar as saudades ás cores, amarelas, rosa choque, de cores vivas, ás bolinhas ou ás riscas, mas sempre alegres como confetis e serpentinas em festas de crianças.
Ter saudades boas é uma das melhores formas de gostar de alguém. Saudades boas, que sabem bem, cheias de memórias doces e frescas, saudades de tardes passadas a ler, de passeios na praia a conversar, saudades de um futuro próximo, ainda incerto, mas cada vez mais perto...
São essas as saudades boas, as saudades certas, que não doem, não cansam, não cobram e não pesam, que só conhecem o verbo dar que fazem com que aqueles de quem mais saudades temos, que nem semprenvemos quando queremos, mas que sabem estar sempre próximos e atentos, tenham sempre saudades de nós.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

NAMORAR ACIMA DE TUDO :)


Namorar está outra vez na moda!

Nas ultimas décadas, a moda era ser anigado, viver junto, andar com. Tudo opções equivocas, enganadoras e traiçoeiras, como são as soluções fáceis, também as falsas.
De todas as modalidades de conjugalidade free, a pior de todas é a dos amigados. Os amigados não são meia dúzia de amigos que vivem juntos. São duas pessoas que preferem suportar-se uma à outra do que aguentar a solidão. Os amigados são namorados desvirtuados. Já não vivem de amor e de paixão, vivem com pantufas e hamburgers. Já não fazem declarações de amor, fazem declarações de voto para ver quem vai despejar o lixo. Os amigados são seres enfiados, apagados e amargurados, vivem juntos por viver, porque calhou, porque era giro ou tinha umas boas pernas, porque estava ali á mão quando se alugou a casa. É uma vida um pouco ao calhas que com o passar do tempo já não calha nada.
Os "andados" são dramáticos, porque são um sub-produto dos namorados. São clandestinos, envergonhados e passam a vida a esconder-se das pessoas. Os "andados" andam muito, mas não chegam a lado nenhum. Andar com é como correr sem sair do mesmo sitio. Uma pessoa cansa-se, estafa-se, desespera e só vê a vida a andar para trás, como aquelas passadeiras de ginásio para praticantes paranóicos de jogging.
Namorar é que é bom. É gostar às claras, contar histórias, escrever cartas, dar miminhos, suspirar, passear de mão dada, ir ao MacDonald's, fazer birras, brincar às escondidas e dizer toda a espécie de parvoices sem cair no ridiculo. Namorar é fazer tudo sem preconceitos, sem medos. Mesmo que seja a ver a Pequena Sereia num domingo à tarde, os dois a roer pipocas enrolados numa mantinha roubada da TAP num voo le longo curso.
O melhor de namorar é que namorar não cansa como ser amigado. Namorar é sempre como dar o primeiro beijo, levar o pequeno almoço à cama, dar a primeira mensagem ou preparar o promeira jantar à luz das velas.

No namorar é que está o ganho!

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

FAZ FRIO!


Devia escrever sobre imensas coisas que me vão passando pela cabeça, mas só me apetece desabafar sobre este frio implacável e devastador que me gela os ossos e a alma, a mim e a mais dez milhões de portugueses. Com esta mania que Portugal tem um bom clima andamos todos a congelar dentro das nossas próprias casas. Já conheci torturas menos penosas. No carro existe o maravilhoso botão do ar condicionado. Nos escritórios idem idem, para conforto dos friorentos e desgraça dos alérgicos. Não tenho lareira nem aquecimento central, as contas da luz duplicam todos os meses desde Outubro e continuo literalmente gelada. Outro dia falaram-me das maravilhas dos cobertores electricos, mas que diabo, uma pessoa não pode passar todo o tempo útil que está em casa enfiado na cama, até parece mal. Será que é por isso que há mais separações no Verão e reconciliações no Inverno?
Outra alternativa é aquecer o corpo por dentro, com chás, chocolates quentes ou para gargantas mais radicais, licores e aguardentes. Na dúvida prefiro Vodka Preta, que dá mais gozo e provoca um efeito colateral nos neurónios. Licores e aguardentes são coisas de taberna. Chocolates quentes é para crianças e chás para tias.
Outra solução é vestir quilos de roupa, ou mesmo o fato de ski, luvas, cachecol e barrete. Sopas. Sopas é outra defesa. Quentinhas, a fumegar. Mas é preciso não queimar a lingua, senão lá se vai o paladar e sem paladar há poucas coisas na vida que tenham graça.
O calor faz muita falta. Ao corpo e á alma, ao espirito e ao coração. O calor dilata os corpos, o frio encolhe-os. O calor anima, o frio desanima. O calor inspira, o frio interioriza.
Finalmente, depois de muito pensar, opto pelo saco de agua quente. È Prático, de grande mobilidade, rápido a proporcionar conforto, eficiente em enanar calor, inofensivo, silencioso e inodoro. Ou então por um dia inteirinho à lareira com um bom livro e a companhia certa, daquelas que sabem aquecer a alma antes de sequer tocarem o corpo.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O ERRO DE PLATÃO


Há pessoas que só sabem amar na ausência, na distância, na certeza de uma proximidade previsivel e meticulosamente programada, onde o amor é dado a conta-gotas como se de uma panaceia se tratasse. Há pessoas que vivem com mais intensidade o amor ausente, perdido, esquecido ou ultrapassado, que saboreiam na solidão o prazer do reencontro, que partilham em sonhos e pelos fios do telefone sem fios os seus desejos e vontades com maior afecto e doçura do que se estivessem ao nosso lado. É desta matéria que são feitos os amores platónicos. No segredo de uma sala onde só a música se ouve, no recolhimento de uma cama de um só corpo, nas saudades mudas e raramente partilhadas com aqueles que se ama.

Felizmente há outras formas de amar. Só que são mais dificeis, custam a aprender e cansam-nos muito mais. Ainda não encontrei em nenhum dicionário o verbo dar como sinónimo de amar, mas talvez ainda não seja tarde. Porque não concebo outra forma de amar que não seja a da partilha dos afectos e do despojamento de tudo aquilo que somos, com tudo o que de bom e de mau isso possa representar, nos braços daquele que amamos.

Um grande amor nunca se fez sem entrega, e se não há entrega, então é porque não há amor.

Nascemos todos para amar, mas demoramos muitos anos a aprender que amar nem sempre é um verbo reciproco. Se essa fosse a primeira coisa a descobrir, viveriamos o amor de uma forma muito mais justa e serena.

O amor platónico é um amor egoista e esteril e devia ser proibido. Só aceito o amor platónico quando já não existe forma nenhuma de o viver de outra forma. E só há uma impossilbilidade real na vida, chama-se morte, é sempre inevitável, quase sempre inesperada e infelizmente irreversivel.

Mas enquanto estamos vivos, é preciso saber viver o amor, esquecer mágoas e matar inseguranças e acreditar que vale a pena amar alguém, que vale a pena partilhar o nosso amor, mesmo que quem o recebe não saiba abrir as mãos para o agarrar.

Se os homens sentissem mais e pensassem menos, talvez Platão se tivesse ocupado com outras teorias mais produtivas. Ou talvez não. Afinal de contas, não era mulher.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

NÃO É PÁSCOA, MAS FAZ DE CONTA!


Galinhas. São um animal enigmático. Feio, torpe, idiota, irritante, é certo. Porém enigmático. Aquelas patitas saltitantes, o pescoço que se mexe sozinho como se fosse a todo o momento desatarrachar-se da cabeça e o olhar, aquele olhar entre um peixe e uma vaca ensonada. O bico sempre á coca, a não ser quando se sentam para pôr ovos. E então é vê-las quais estátuas gregas, numa pose digna e imperturbável, ar superior e arrogante.

Não conheço ninguem que goste de galinhas. Deve ser um dos animais mais detestados do mundo. O que é uma grande injustiça, porque a galinha, no fundo no fundo, é nossa amiga. Quem nos dá omeletes, pintos, papos de anjo, trouxas, bacalhau à braz, lampreias de ovos, gemadas e outras iguarias a não ser a nossa amiga galinha? E quando estamos doentes, o que sabe mesmo bem? Uma canjinha. E não me interessa nada saber se o que apareceu primeiro foi o ovo ou a galinha, é uma daquelas discussões tão inuteis e idiotas como qual o sexo dos anjos ou o que faz o marido da Àgata. O que me interessa é que as galinhas põem ovos e que com os ovos se fazem coisas bestiais, época do Carnaval incluida.