terça-feira, 29 de abril de 2008

A CURVA DO RIO


Há muito tempo que desejo escrever-te esta carta, como se uma força oculta fosse falando cada vez mais alto dentro do meu peito, uma voz muda que vai ganhando força e subindo até á garganta, tudo arranhando pelo caminho, inevitável e consistente, como o curso de um rio.
Quando o nosso amor nasceu, vi-o correr muito depressa debaixo dos meus olhos e quis ir atrás dele. Perdi o meu tempo porque não percebi que era a unica que o seguia. Não te vi parado, do outro lado da margem, que se ia cavando cada vez mais larga e funda, impotente ao caudal, assustado com a minha determinação, tu que só somas certezas depois de se disssiparem todas as duvidas e que preferes sempre nao acreditar em ti e nos outros, ate que o tempo e a sorte te vençam.
Somos o avesso um do outro. Quando duvidas, páras, e eu sigo em frente. Quando tens medo, eu tenho vontade, quando sonhas, eu pego nos teus sonhos e torno-os realidade, quando te entristeces, fechas-te numa concha e eu choro para o mundo, quando não sabes o que queres, esperas e u escilho, quando alguem te empurra, tu foges e eu deixo-me ir.
Somos o avesso um do outro, iguais por fora, o contrario por dentro. Tu proteges-me, acalmas-me, ouves-me e ajudas-me a parar. Eu puxo por ti, sacudo-te e ajudo-te a avançar. Como duas metades teimosas, vivemos de costas voltadas um para o outro, eu sempre á espera que te vires e me abraces, e tu sempre á espera que a vida te traga um sinal, te aponte um caminho e escolha por ti o que não és capaz.
Sobram-me as palavras, ainda e sempre as palavras que correm pelo rio. Histórias, mensagens, crónicas, um livro, conversas, e mais histórias, porque as palavras são as unicas que nunca falham, que me alimentam os soinhos e sustentam os dias quando mais nada me rodeia para além do silencio e uma vaga ideia de espera, desbotada pelo cansaço e pelo tempo.
Nenhum rio corre duas vezes e o amor é um mistério em estado liquido que se pode solidificar numa relação quse perfeita ou evaporar-se com o tempo e a distância, chamando a ausência para o lugar do futuro. E quando o futuro é um lugar deivxado vazio, nada mais há a fazer senão voltar para trás e procurar, sem procurar, uma nova nascente.


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